domingo, 21 de dezembro de 2014

BRASIL, UM ANO DEPOIS.

Brasil – um ano depois

PublishNews - 07/10/2014

Na abertura da Feira do Livro de Frankfurt de 2013, o escritor brasileiro Luiz Ruffato proferiu um discurso forte e polêmico. De lá para cá, muitas coisas aconteceram. O Brasil, homenageado na edição passada da feira, manteve a curva ascendente na venda de direitos autorais brasileiros no mercado internacional. O País sempre foi conhecido como um bom comprador de direitos, mas um movimento no sentido contrário tem ganhado força. Muito dessa força se deve à criação, em 2008, do Brazilian Publishers – projeto de parceria entre a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-BRasil). De acordo com a CBL, considerando exclusivamente os resultados das reuniões de negócios das editoras associadas ao Brazilian Publishers realizadas durante a Feira do Livro de Frankfurt do ano passado, as exportações de conteúdo de direitos autorais somados aos conteúdos impressos evoluíram de US$ 410 mil em 2012 para US$ 750 mil em 2013, representando crescimento de 82%. Os conteúdos foram comercializados para cerca de 30 países, destacando-se como principais compradores o México, Portugal, Angola, EUA, França, Colômbia, Alemanha, Chile, Peru e Argentina. Os negócios gerados em Frankfurt, ainda de acordo com a Brazilian Publishers, respondem por cerca de 30% das vendas anuais. A entidade fala de um volume de exportações na ordem de US$ 2,95 milhões, o que representa aumento de 11% frente ao montante de US$ 2,65 milhões de 2012.
 
“Frankfurt foi uma grande vitrine que deu um boost em diversos outros projetos do Brazilian Publishers”, avalia Mansur Bassit, diretor executivo da CBL. Ele se refere à participação do Brasil em Guadalajara, a homenagem que o País recebeu em Bolonha e a uma série de iniciativas permanentes cujos objetivos é manter o foco do mercado internacional no que acontece dentro do País. Durante a Copa do Mundo, o Brazilian Publishers levou ao Brasil representantes de editoras e jornalistas da França, Suécia e Colômbia para conhecerem um pouco do mercado e da produção literária brasileira. Passada a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, realizada em agosto passado, foi a vez de representantes de editoras da Alemanha, Coréia do Sul, Colômbia, EUA, França, México e Portugal visitarem o País. “Esses projetos ampliam as perspectivas e mostram o mercado brasileiro para os estrangeiros”, defende Mansur. Para 2014, a missão brasileira capitaneada pelo Brazilian Publishers chega a Frankfurt com 41 editoras – no ano passado, quando o país foi o homenageado, a deleção brasileira ultrapassou os 160 representantes.
 
O projeto de internacionalização do livro encabeçado pelo Brazilian Publishers na Feira de Frankfurt em 2013, deu à CBL o prêmio Excelência em Exportação, concedido pela Apex-Brasil. “Nós capacitamos 164 empresários, entre associados do Projeto Brazilian Publishers e outros editores do mercado, com foco para a bibliodiversidade do setor”, conta Mansur.  “Editoras brasileiras perdiam oportunidades internacionais por desconhecer particularidades do segmento de exportação. Podemos dizer que, hoje, o país é, também, vendedor de direitos autorais”, comenta Mansur sobre a atuação do Brazilian Publishers.
 
Outro termômetro do interesse pela produção literária brasileira é o Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior, oferecido pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN). Reformulado em 2010, o programa tornou-se uma referência para editoras, agentes e tradutores nos quatro cantos do mundo e chega a oferecer até US$ 8 mil para traduções de títulos brasileiros. De 2010 a 2014, foram concedidas 549 bolsas de tradução, 95 delas depois da homenagem recebida em Frankfurt. Entre 2012 e 2013, foram mais de cem títulos publicados em alemão.  “Os números alcançados na Alemanha no ano da homenagem não devem se repetir, mas o que se percebe é uma manutenção no interesse pela bolsa”, observa Fábio Lima, coordenador do programa de apoio à tradução da FBN.
 
Para a agente literária brasileira Lucia Riff, o bom momento da literatura brasileira no mercado internacional em muito se deve ao que ela chamou de “boa safra de ficcionistas brasileiros”, aliada a outros dois fatores que facilitaram a inserção da literatura brasileira no mercado internacional: “Antigamente, você não tinha as facilidades que tem hoje. Era caro enviar livros ao exterior. Hoje, enquanto converso com o editor internacional, já envio o PDF por e-mail. Além disso, há um interesse maior por parte dos mercados internacionais por livros traduzidos. Os ingleses e os americanos, por exemplo, têm pedido mais traduções”. Riff completa ainda que a homenagem no ano passado, seguida pela homenagem recebida em Bolonha, em março passado, colaboraram para esse crescimento. “Essas homenagens sempre ajudam. A Alemanha, por exemplo, sempre busca contratar mais títulos dos países homenageados”, pontuou.
 
Riff ressalta, no entanto, que a crise econômica afetou muito a circulação de direitos autorais no globo. “É muito comum que grandes editoras internacionais optem por comprar apenas uma obra de escritor brasileiro. Aí a concorrência é enorme!”. A Companhia das Letras – detentora dos direitos de livros de autores como Daniel Galera, Michel Laub e Raphael Montes, nomes que conseguiram conquistar bons territórios no mercado internacional – percebeu um crescimento, mesmo que modesto, nas vendas de direitos de autores brasileiros no mercado internacional desde a homenagem ao Brasil na edição passada da Feira do Livro de Frankfurt. “As homenagens em feiras como a de Frankfurt ou Bolonha são indicativos de que há interesse pela literatura brasileira e tudo isso se soma”, comentou Rita Mattar, responsável pelas vendas de autores nacionais da Companhia das Letras. Otávio Costa, publisher da Companhia, ressalta ainda os investimentos feitos pela editora ao longo de 20 anos na conquista de fatias de mercado internacional. “É um trabalho que a Companhia das Letras tem feito em parceria com agentes e editores internacionais”, completou Otávio.
 
Garoto prodígio da literatura policial brasileira
Raphael Montes, de apenas 23 anos, conquistou nove territórios com o seu livro Dias perfeitos publicado no Brasil pela Companhia das Letras. Montes credita o sucesso do seu livro à universalidade da sua escrita. “Dias perfeitos, apesar de brasileiro, de se passar no Brasil e de trazer questões relacionadas ao Brasil, é um livro universal”, comentou. Com essas premissas, Montes, apontado como o garoto prodígio da literatura policial brasileira conseguiu vender os direitos de seu livro para Alemanha, Canadá, Espanha, EUA, França, Holanda, Itália, Portugal e Reino Unido.
 
Brazil Beyond
O grande desafio da participação do Brasil na Feira de Frankfurt deste ano é mostrar que o país pode ir além de sua performance, apresentada na edição da feira de 2013 quando foi o convidado de honra.  O conceito Brasil Beyond, que marca a participação do país em Frankfurt, quer surpreender o mundo. “Queremos que os visitantes sejam atraídos para um estande com visual sofisticado e inovador, ao mesmo tempo sustentável e empreendedor, que tem como protagonista, o livro”, comentou Mansur. “O trabalho que o projeto Brazilian Publishers irá apresentar em Frankfurt demonstra o esforço e o envolvimento das editoras participantes do projeto, que entenderam a importância de se construir um propósito sólido rumo à internacionalização da literatura brasileira”, completou o diretor da CBL.

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