sábado, 20 de dezembro de 2014

O SOM AO REDOR.

O Som ao redor

Diário de Copacabana

Galeno Amorim

Esqueça aquela imagem de cartão-postal de Copacabana em dia de sol, luz, desfile de biquínis e sungas minúsculos e céu e mar azul pra dar e vender. Apague, por instantes, o retrato na parede de Copa como palco de concentrações formidáveis, das coreografias fogueteiras no êxtase do reveillon aos desfiles monumentais da Parada Gay, a azaração de praia na Copa do Mundo ou na massa humana que acolheu o Papa.
Agora que restam poucos dias para o Natal e as pessoas andam com a sensibilidade à flor da pele, a Princesinha do Mar também resolveu viver seu dia de gala. Em vez da luz radiante e típica das manhãs e tardes de primavera-verão, era o lusco-fusco do fim da tarde – logo substituída pelo negrume da noite sem qualquer estrela no firmamento – quem emprestava uma magia celestial ao ponto exato em que Copacabana já é quase Arpoador.
O curioso é que a chuvinha fina de molhar bobo que salpicou quase o dia todo as areias da orla dava a impressão de que seria mais um daqueles sabadões insossos, como o carioca da gema classifica, com razão e indignação cívica, dias assim.
Mas não foi nada disso.
Copacabana viveu foi uma tarde-noite de beleza e emoção. As pessoas não sabiam se riam ou choravam. Se davam pulinhos ou soltavam gritinhos. De puro e íntimo contentamento. Aquilo que só a arte – no caso, uma feliz combinação de duas delas, o cinema e a música de qualidade – é capaz de propiciar à alma humana.
Visto de cima, o Forte de Copacabana - comemorando seu centenário glorioso – mais parecia uma instalação de arte contemporânea, tamanho o mar de guarda-chuvas e sombrinhas que se formou espontaneamente no cenário mais do que perfeito. Sob umas e outros, e debaixo do olhar atento do Redentor, só na espreita, lá de cima do Corcovado, milhares de homens, mulheres, velhos e crianças se espremiam para ver e ouvir o concerto de fim de ano da Orquestra Sinfônica Brasileira e suas trilhas dos grandes filmes. Tudo com o silencioso reverencioso que a ocasião exigia. 
Quando a chuva, enfim, resolveu dar uma breve trégua, a menininha de vestido vermelho subiu na garupa do pai só para ver com seus próprios olhinhos aquilo que tanto as pessoas ao seu redor insistiam em aplaudir, sob gritos de Bravo! Então, ela sorveu, como a um sorvete, cada acorde, que lhe fazia recordar de cenas do bruxinho Harry Porter da sua infância ainda em curso.
Já as duas senhorinhas de sombrinha cantarolavam, já às lagrimas, o tango com o qual Al Pacino arrancou suspiros do mulherio em Perfume de Mulher.
Era mesmo um cenário de cinema.
Por onde se olhasse, a fotografia, naturalmente, ajudava. Quem mirasse o Atlântico, notaria as primeiras luzes da noite, vinda dos barcos e das casas dos ilhéus na Baía de Guanabara. Das ondas que se chocavam contra as pedras, um líquido branco e leitoso aspergia sobre esse naco do oceano. O toque de realidade vinha lá de cima do morro e o pisca-pisca incessante dos barracos.
Dois adolescentes não se contiveram. Prometiam, um para o outro, que assistiriam, assim que desse, as fitas que não tinham visto na telona.
Porém, foi o menino, do alto e da candura de seus não mais do que dez anos, quem melhor traduziria a magia do instante. Encharcado da cabeça aos pés, ainda que abrigado sob a capa de chuva que, pelo visto, de nada adiantara, ele protagonizava seu próprio espetáculo, doce e meigo, à parte.
Seus olhinhos amendoados e castanhos brilhavam enquanto ele, usando apenas o dedo indicador da mão direita, comandava e executava, com absoluta maestria, sua própria versão sonora de Guerra nas Estrelas.
Era uma magia única.

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