Quanto
mais alienados, mais consumistas
Ray
Moynihan, Alain Wasmes
A
remuneração dos especialistas pela indústria não significa necessariamente
tráfico de influências. Mas, aos olhos de um grande número de observadores,
médicos e indústria farmacêutica mantêm laços extremamente estreitos.
As definições das doenças são ampliadas, mas as causas dessas pretensas disfunções são, ao contrário, descritas da forma mais sumária possível. No universo desse tipo de marketing, um problema maior de saúde, tal como as doenças cardiovasculares, pode ser considerado pelo foco estreito da taxa de colesterol ou da tensão arterial de uma pessoa. A prevenção das fraturas da bacia em idosos confunde-se com a obsessão pela densidade óssea das mulheres de meia-idade com boa saúde. A tristeza pessoal resulta de um desequilíbrio químico da serotonina no cérebro.
O
fato de se concentrar em uma parte faz perder de vista as questões mais
importantes, às vezes em prejuízo dos indivíduos e da comunidade. Por exemplo:
se o objetivo é a melhora da saúde, alguns dos milhões investidos em caros
medicamentos para baixar o colesterol em pessoas saudáveis, podem ser
utilizados, de modo mais eficaz, em campanhas contra o tabagismo, ou para
promover a atividade física e melhorar o equilíbrio alimentar.
A
venda de doenças é feita de acordo com várias técnicas de marketing, mas a mais
difundida é a do medo. Para vender às mulheres o hormônio de reposição no
período da menopausa, brande-se o medo da crise cardíaca. Para vender aos pais a
idéia segundo a qual a menor depressão requer um tratamento pesado, alardeia-se
o suicídio de jovens. Para vender os medicamentos para baixar o colesterol,
fala-se da morte prematura. E, no entanto, ironicamente, os próprios
medicamentos que são objeto de publicidade exacerbada às vezes causam os
problemas que deveriam evitar.
O
tratamento de reposição hormonal (THS) aumenta o risco de crise cardíaca entre
as mulheres; os antidepressivos aparentemente aumentam o risco de pensamento
suicida entre os jovens. Pelo menos, um dos famosos medicamentos para baixar o
colesterol foi retirado do mercado porque havia causado a morte de "pacientes".
Em um dos casos mais graves, o medicamento considerado bom para tratar problemas
intestinais banais causou tamanha constipação que os pacientes morreram. No
entanto, neste e em outros casos, as autoridades nacionais de regulação parecem
mais interessadas em proteger os lucros das empresas farmacêuticas do que a
saúde pública.
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