O palhaço que venceu o crack - uma vida nada engraçada
G1 - 02/12/2014
Foi com o lança-perfume que Rafael Bueno Menezes, mais conhecido como Palhaço Gabezinho, entrou no vício em drogas, quando tinha 14 anos de idade. O então adolescente experimentou de tudo, passou por cocaína e terminou no crack. A história que poderia ter um final triste acabou em superação. Há sete anos longe das drogas, ele resolveu lançar um livro, em que conta as experiências que viveu durante o vício.
Menezes tem 38 anos e é morador de Francisco Beltrão, no sudoeste do Paraná. Entre as experiências que viveu, ele lembra de quando precisou morar na rua. “Depois que minha mãe morreu, virei mendigo e passei a dormir em albergues”, conta. Após várias internações sem resultados, a decisão de mudar de vida e parar de usar drogas chegou de repente. “Eu achava que era impossível parar, até sentir no coração. Crack não é o fim do mundo, tem que colocar na cabeça e no coração que é possível viver sem ele”, afirma.
Em setembro de 2007 Menezes decidiu abandonar o vício. “No começo sentia desejo de usar, mas então eu pensava em outra coisa. Comecei a trabalhar, daí não tinha tempo para fica pensando no crack”, explica.
A vontade de escrever o livro surgiu há quatro anos. A partir de então, Menezes passou a anotar as recordações e depois as organizou por ordem cronológica. A obra "O palhaço que venceu o crack – Uma vida nada engraçada" tem 104 páginas e foi lançada em novembro. “Eu quero mostrar que o crack é devastador, mas que você pode vencer. Basta ter vontade”, explica Menezes.
Palhaço por vocação
Menezes conta que sempre foi o mais engraçado dos amigos. “Ficava contando piadas, brincava com todo mundo. Vivia fazendo palhaçadas”. E foi sentado no banco de uma praça, em Curitiba, que Rafael decidiu: seria palhaço profissional. “Eu pensei: ‘porque não ganhar dinheiro fazendo os outros sorrirem?”.
Depois que abandonou as drogas, Rafael casou e teve um filho, hoje com quatro anos de idade. Atualmente a família trabalha fazendo a alegria das crianças, animando festas e eventos, como palhaços profissionais.
Tratamento
Conseguir deixar o vício sozinho, sem buscar tratamento ou internação, como Menezes fez, é difícil, segundo o secretário Anti-Drogas de Cascavel, no oeste do Paraná, Eugênio Rozetti. “É preciso ter motivação espiritual, de relacionamentos ou iniciativa de querer mudar de vida. Alguma motivação o usuário de crack tem para poder tomar a decisão”, disse.
Após a iniciativa, Rozetti explica que nos primeiros 45 dias sem contato com a droga, o organismo expulsa as substâncias químicas do corpo. Após nove meses, o ex-usuário começa a ter uma rotina sem pensar e sentir a necessidade da droga. “É uma luta diária. Não tem cura, apenas se pode controlar o desejo pelas drogas, porque psicologicamente a pessoa nunca vai estar livre, pois ela não consegue esquecer o que viveu quando era usuário.Ela consegue administrar as lembranças e vontades”, afirma Rozetti, que tem uma comunidade para tratamento de usuários de drogas e alcool e é referência no estado do Paraná.
Menezes está dentro de um pequeno percentual de ex-usuários que conseguem abandonar definitivamente o vício. “Apenas 2% dos viciados conseguem abandonar as drogas e nunca mais usá-las. Outros 28% começam e têm recaídas. Já 70% dos viciados não procuram ajuda”, explica Rozetti, que também fala da importância da família durante o processo de cura. “A família também precisa buscar ajuda, tem que entender a droga, o que ela causa, porque o usuário fica dependente da droga e a família sofre e adoece junto. O viciado é tão vítima do crack quanto a família, mas a família precisa estar bem para incentivá-lo a procurar tratamento”, afirma.
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