Trecho do livro “Sociedade com Custo Marginal Zero”, do futurólogo
americano Jeremy Rifkin, que prevê a substituição do capitalismo pela economia
do compartilhamento:
http://estaremsi.com.br/nos-somos-aqueles-que-estavamos-esperando-sociedade-com-custo-marginal-zero/
“O capitalismo está dando à luz uma descendência. Chama-se
economia do compartilhamento. Esse é o primeiro novo sistema econômico a entrar
no palco mundial desde o advento do capitalismo e do socialismo. A economia do
compartilhamento já está mudando a forma como organizamos a vida econômica,
oferecendo a possibilidade de reduzir drasticamente a divisão de renda,
democratizar a economia global e criar uma sociedade mais ecologicamente
sustentável.
Mercados estão começando a dar lugar a redes, a posse está
se tornando menos importante do que o acesso, a busca do interesse próprio está
sendo moderada pela pressão de interesses colaborativos e o tradicional sonho de
enriquecimento financeiro está sendo suplantado pelo sonho de uma qualidade de
vida sustentável. Os jovens colaborativistas estão tomando emprestado as
virtudes do capitalismo e do socialismo e eliminando a natureza centralizadora
tanto do livre mercado quanto do estado burocrático.
Esses jovens não apenas produzem e compartilham as próprias
informações, entretenimento, energia renovável, imprimem em 3D e frequentam
cursos online abertos a um custo marginal próximo de zero. Eles também
compartilham carro, casa e até roupas em sites de mídia social, locadoras,
clubes de redistribuição e cooperativas a um custo marginal baixo ou de quase
zero.
Jovens empreendedores criam empresas ecologicamente
sensíveis e novos negócios com a ajuda do crowdfunding. Com
isso, o ‘valor de troca’ no mercado está cada vez mais sendo substituído pelo
‘valor de compartilhamento’. À medida que mais jovens passam a compartilhar seus
bens e serviços, as regras que regem uma economia de mercado se tornam menos
relevantes para a vida da sociedade como um todo.
Na fase atual, estamos testemunhando o surgimento de uma
economia híbrida. Uma parte é uma economia de mercado capitalista e a outra é
uma economia compartilhada. Mas, mesmo nesse momento muito inicial, tem se
tornado cada vez mais claro que o sistema capitalista, que forneceu uma
narrativa tão convincente da natureza humana, atingiu o auge e começou seu lento
declínio.
Embora os indicadores da
grande transformação para um novo sistema econômico ainda sejam suaves e, em
grande parte, anedóticos, a economia de compartilhamento está em ascensão e, em
2050, provavelmente terá se estabelecido como principal árbitro da vida
econômica. Um sistema capitalista cada vez mais ágil continuará a prosperar,
encontrando vulnerabilidades para explorar, principalmente como um agregador
de serviços de rede e soluções.
Entendo que isso pareça totalmente inverossímil para a
maioria das pessoas, de tão condicionados que nos tornamos à crença de que o
capitalismo é tão indispensável para nosso bem-estar quanto o ar que respiramos.
Mas, a despeito dos esforços de economistas ao longo dos séculos para atribuir
as premissas operacionais do capitalismo às mesmas leis que governam a natureza,
os paradigmas econômicos são apenas construções do homem, não fenômenos
naturais.
A razão de ser do capitalismo é levar cada aspecto da vida
humana para a área econômica, na qual é transformado em uma mercadoria que será
negociada como um bem. Muito pouco do esforço humano escapou dessa
transformação. A comida que comemos, a água que bebemos, os artefatos que
produzimos e usamos, as relações sociais em que nos envolvemos, as ideias que
trazemos à luz, o tempo que gastamos e até mesmo o DNA que determina tanto do
que somos, tudo foi lançado no caldeirão capitalista — sendo reorganizado,
precificado e levado ao mercado.
Durante a maior parte da história, os mercados eram pontos
de encontro ocasionais onde bens eram negociados. Hoje, praticamente cada
aspecto de nossa vida cotidiana está de algum modo conectado a trocas
comerciais. O mercado nos define. E, numa economia de mercado, o lucro é obtido
nas margens. Por exemplo, como autor, vendo meu produto de trabalho intelectual
para uma editora.
O livro, então, passa por diversas mãos em seu caminho até
o consumidor, incluindo serviços de editoração e impressão. Cada parte envolvida
no processo aumenta o custo da transação ao incluir uma margem de lucro. Mas e
se o custo marginal de produzir e distribuir um livro despencasse para
praticamente zero? Na verdade, isso já está acontecendo. Um número crescente de
autores está escrevendo livros e disponibilizando-os por um preço muito baixo,
ou até mesmo de graça, na internet.
Momento Histórico
Atualmente, mais de um terço da raça humana está produzindo
a própria informação e compartilhando-a por meio de vídeos, áudios e texto por
um custo marginal próximo de zero. Essa revolução está começando a afetar
setores como a indústria e a educação. Falo da impressão 3D e dos cursos online.
Já existem milhões de consumidores que se tornaram produtores, gerando a própria
energia renovável por um custo marginal próximo de zero.
Dentro das próximas duas ou três décadas, esses
produtores-consumidores estarão produzindo e compartilhando energia renovável,
assim como bens físicos e serviços. E, dessa forma, levando a economia mundial a
uma nova era: um tempo em que as coisas serão praticamente gratuitas. Com isso,
o mercado capitalista continuará a encolher. Empresas com fins lucrativos
sobreviverão somente à margem da economia, com uma base reduzida de clientes de
produtos e serviços altamente especializados.
A relutância atual em lidar com o advento do custo marginal
próximo de zero é compreensível. Para poder entender as imensas mudanças
econômicas, sociais, políticas e psicológicas que deverão vir é útil comparar
este momento a outros igualmente disruptivos, como a passagem da economia feudal
para a de mercado no final da Idade Média e, novamente, da economia de mercado
para a economia capitalista na era moderna.”
Postado originalmente: www.partidopirata.org
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