Recomendamos demais a leitura desse texto de Eckhart Tolle e que está no seu livro
“O despertar de uma nova
consciência” (2005), mais precisamente no capítulo três “A
essência do ego”. É dirigido para os que temos o vício de nos queixar do outro,
das circunstâncias. Com grifos meus.
Queixar-se é uma das estratégias
prediletas do ego para se fortalecer. Cada reclamação é uma
pequena história que a mente cria e na qual acreditamos inteiramente. Não
importa se ela é feita em voz alta ou apenas em pensamento. Alguns egos que
talvez não tenham muito mais com o que se identificar sobrevivem apenas
com queixas. Quando estamos presos a um ego assim, reclamar,
sobretudo de alguém, é algo habitual e, é claro,
inconsciente, o que mostra que não sabemos o que estamos
fazendo.
Uma atitude típica desse padrão é aplicar
rótulos mentais negativos às pessoas, seja na frente delas ou, como é
mais comum, falando sobre elas com alguém ou até mesmo
apenas pensando nelas. Xingar é o modo mais rude de atribuir
esses rótulos e de mostrar a necessidade que o ego tem de estar certo e triunfar
sobre os outros: “idiota”, “desgraçado”, “prostituta”, “etc”, todas essas
afirmações definitivas contra as quais não se pode argumentar.
No nível seguinte, descendo pela escala da
inconsciência, estão os gritos. Não muito abaixo disso se
encontra a violência física. O ressentimento é
a emoção que acompanha a queixa e a rotulagem mental dos
outros. Ele acrescenta ainda mais energia ao ego. Ressentir-se
significa ficar magoado, melindrado ou ofendido. Costumamos nos sentir
assim em relação à cobiça das pessoas, à sua desonestidade, à sua falta de
integridade, ao que estão fazendo no presente, ao que fizeram no passado, ao que
disseram, ao que deixaram de dizer, à atitude que deviam ou não ter tomado. O
ego adora isso.
Em vez de
detectarmos a inconsciência nos outros, nós a transformamos em
sua identidade. Quem é o responsável por isso? Nossa própria inconsciência, o
ego em nós. Algumas vezes, a “falta” que apontamos em alguém nem mesmo existe.
Ela pode ser um erro total de interpretação, uma projeção feita
por uma mente condicionada a ver inimigos e a se considerar sempre certa ou
superior. Em outras ocasiões, a falta pode ter ocorrido; contudo, se nos
concentrarmos nela, às vezes excluindo todo o resto, nós a tornamos maior do que
ela realmente é.
E dessa maneira fortalecemos em nós mesmos aquilo
a que reagimos no outro, o ego. Não reagir ao ego das pessoas é uma das
maneiras mais eficazes de não só superarmos nosso próprio ego como também de
dissolver o ego humano coletivo. No entanto, só conseguimos nos abster de reagir quando somos capazes
de reconhecer o comportamento de alguém como originário do ego,
como uma expressão do distúrbio coletivo da espécie humana insana.
Quando
compreendemos que não se trata de nada pessoal, a compulsão para reagir
desaparece. Não reagindo ao ego, muitas vezes podemos fazer aflorar a sanidade
nos outros, que é a consciência não condicionada em oposição à
consciência condicionada. Em determinadas
ocasiões, talvez precisemos tomar providências práticas para nos proteger de
pessoas profundamente inconscientes. Isso é algo que temos condições de fazer
sem torná-las nossas inimigas.
Nossa maior
defesa, contudo, é sermos conscientes aqui e agora. Alguém passa a ser um
inimigo quando personalizamos a inconsciência dele que é o ego.
A não-reação não é fraqueza, mas força. Outra palavra para não reação é perdão. Perdoar é ver além, ou melhor, é enxergar através de
algo. E ver, através do ego, a sanidade que há em cada ser humano como sua
essência. O ego adora reclamar e se ressente não só de pessoas
como de situações.
O que podemos fazer com alguém também
conseguimos fazer com uma circunstância: transformá-la num inimigo. Os
pontos implícitos são sempre os mesmos: “isso não deveria estar acontecendo”,
“não quero estar aqui”, “estou agindo contra minha vontade”, “o tratamento que
estou recebendo é injusto”, “etc”. E, é claro, o maior inimigo do ego
acima de tudo isso é o momento presente, ou seja, a vida em si,
o agora. Não confunda a queixa com a atitude de
informar alguém de uma falha ou de uma deficiência para que elas possam ser
sanadas.
Além disso, abster-se de reclamar não corresponde
necessariamente a tolerar algo de má qualidade nem um mau comportamento. Não há
interferência do ego quando dizemos ao garçom que a comida está fria e precisa
ser aquecida – desde que nos atenhamos aos fatos, que são sempre
neutros. “Como você se atreve a me servir uma sopa fria?” Isso é se
queixar, isso é ego.
Nessa situação, existe um “eu” que adora se
sentir pessoalmente ofendido pela comida fria e ele aproveitará esse fato ao
máximo, um “eu” que aprecia apontar o erro de alguém. A reclamação a que
me refiro está a serviço do ego, e não da mudança. Algumas vezes fica óbvio que
o ego não deseja que algo se modifique para que possa continuar se queixando e
continuar existindo.
Veja se você consegue capturar, ou melhor,
perceber, a voz na sua cabeça – talvez no exato instante em que ela esteja
reclamando de algo – e reconhecê-la pelo que ela é: a voz do ego, não mais do que um padrão
mental condicionado, um pensamento. Sempre
que a observar, compreenderá que você não é ela, e sim aquele que tem
consciência dela.
Na verdade, você é a consciência que está consciente da
voz. Atrás, em segundo plano, está a consciência. À frente, se
situa a voz, aquele que pensa, o ego. Dessa maneira você estará se libertando do
ego, livrando-se da mente não observada. No momento em que você se tornar
consciente do ego, a rigor ele não será mais o ego, e sim um velho padrão mental
condicionado.
O ego implica inconsciência. Ele
e a consciência não conseguem coexistir. O velho padrão mental, ou
hábito mental, pode sobreviver e se manifestar por mais um tempo porque
tem o impulso de milhares de anos de inconsciência humana coletiva atrás de
si.
No entanto,
toda vez que é reconhecido, ele se enfraquece. Só a prática da
auto-observação consciente leva ao despertar da consciência e conseqüentemente
com a eliminação do ego.
Extraído do livro: “O Despertar de uma Nova
Consciência”
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