sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

UMA OPORTUNIDADE PERDIDA.

Brasil: uma oportunidade perdida
País optou por destruir a indústria de energia limpa, deixando de criar milhões de greenjobs, em prol do pré-sal
Julien Dias, consultor, Artigos e Entrevistas - 24/02/2015

Em 1992, durante a Cúpula da Terra no Rio de Janeiro (Rio-92), com a presença de chefes de Estado e outras autoridades (representando 154 países), foi assinada a Convenção - Quadro sobre Mudança do Clima, que entrou em vigor em março de 1995. O objetivo da Convenção era a estabilização das emissões de gases do efeito estufa (GEE).

Em 1997, por ocasião da III Conferência das Partes da Convenção Climática (COP3), o Protocolo de Kyoto foi elaborado, tendo como base a Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, que remonta a Rio-92.  Para que o Protocolo de Kyoto entrasse em vigor, foi necessária sua ratificação por, pelo menos, 55 países, responsáveis por 55% das emissões de carbono (com  base no ano de 1990, nos países do Anexo I). Quando a Rússia ratificou o Protocolo de Kyoto, em 18 de novembro de 2004, esse requisito foi cumprido, e o Protocolo de Kyoto entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005. A partir desse momento, uma revolução silenciosa, mas constante, ocorreu na economia mundial.

Muitos países veem as questões climáticas como uma ameaça à sua economia, incluindo o Brasil, que não aceita reduções obrigatórias de emissões. Porém, alguns países perceberam inúmeras oportunidades nessa transformação sociocultural, onde a sociedade deseja consumir energia limpa, renovável e sustentável, fazendo uma nova revolução industrial, a Revolução da Energia Sustentável!

Além da obrigação de reduzir as emissões de Gases de Efeito Estufa, inúmeros países, por questões estratégicas e de soberania, tinham necessidade de diminuir a sua dependência do petróleo. Como consequência, nestes últimos 20 anos, a indústria de geração de energia mudou radicalmente; inúmeras novas tecnologias tornaram-se economicamente viáveis, devido ao ganho em escala, tais como: a exploração do gás de xisto, energia fotovoltaica, biomassa, eólica, lâmpadas de led, dentre outras.

Os maiores exemplos são a Alemanha, China, Estados Unidos e Canadá, que rapidamente se tornaram detentores das novas tecnologias de geração de energia. Estados Unidos e Canadá com a exploração do gás de xisto; China, como o maior produtor de painéis solares, turbinas eólicas e lâmpadas de led; e a Alemanha, com outras tecnologias.

Assim, esses países criaram milhões de “greenjobs”, dominando a tecnologia e ofertando mais um produto de exportação: as tecnologias limpas e geração de energia a baixo custo. Na contramão do mundo, o Brasil optou por destruir a indústria de energia limpa, onde era referência mundial: produção de etanol, geração de biomassa e energia hídrica, em prol de um sonho megalomaníaco, “o pré-sal”.

As consequências imediatas foram o desemprego maciço no setor sucro-alcooleiro, forçando milhões de trabalhadores do campo a inflar as favelas brasileiras, além do fechamento de inúmeros postos de trabalho e fábricas de equipamento para pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) e geração de biomassa. Somando os desmontes da cadeia industrial, temos o total colapso dos setores elétricos brasileiros, além do iminente risco de apagão (negado, como sempre, pelo governo federal).

A consequência mais nefasta é a destruição do futuro das novas gerações, pois milhões de “greenjobs” deixarão de ser criados, já que o Brasil, conscientemente, optou por importar a tecnologia limpa, restando como sempre o papel secundário de exportador de commodites.

Os nossos jovens engenheiros terão de buscar oportunidades de trabalho fora do Brasil.

“O último a sair, por favor, apague a luz,” se houver luz.



Julien Dias é consultor da área de energia elétrica, professor do Instituto Superior de Administração e Economia da Fudação Getúlio Vargas, diretor de Project Finance e M&A da Electra Power Geração de Energia e da Abrapch.http://www.linkedin.com/in/juliendias1 

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