Brasil: uma oportunidade perdida
País
optou por destruir a indústria de energia limpa, deixando de criar milhões de
greenjobs, em prol do pré-sal
Julien Dias, consultor, Artigos e
Entrevistas - 24/02/2015
Em 1992, durante a Cúpula da Terra no
Rio de Janeiro (Rio-92), com a presença de chefes de Estado e outras
autoridades (representando 154 países), foi assinada a Convenção - Quadro sobre
Mudança do Clima, que entrou em vigor em março de 1995. O objetivo da Convenção
era a estabilização das emissões de gases do efeito estufa (GEE).
Em 1997, por ocasião da III
Conferência das Partes da Convenção Climática (COP3), o Protocolo de Kyoto foi
elaborado, tendo como base a Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre as
Mudanças Climáticas, que remonta a Rio-92. Para que o Protocolo de Kyoto
entrasse em vigor, foi necessária sua ratificação por, pelo menos, 55 países,
responsáveis por 55% das emissões de carbono (com base no ano de 1990,
nos países do Anexo I). Quando a Rússia ratificou o Protocolo de Kyoto, em 18
de novembro de 2004, esse requisito foi cumprido, e o Protocolo de Kyoto entrou
em vigor em 16 de fevereiro de 2005. A partir desse momento, uma revolução
silenciosa, mas constante, ocorreu na economia mundial.
Muitos países veem as questões
climáticas como uma ameaça à sua economia, incluindo o Brasil, que não aceita
reduções obrigatórias de emissões. Porém, alguns países perceberam inúmeras
oportunidades nessa transformação sociocultural, onde a sociedade deseja
consumir energia limpa, renovável e sustentável, fazendo uma nova revolução
industrial, a Revolução da Energia Sustentável!
Além da obrigação de reduzir as
emissões de Gases de Efeito Estufa, inúmeros países, por questões estratégicas
e de soberania, tinham necessidade de diminuir a sua dependência do petróleo.
Como consequência, nestes últimos 20 anos, a indústria de geração de energia
mudou radicalmente; inúmeras novas tecnologias tornaram-se economicamente
viáveis, devido ao ganho em escala, tais como: a exploração do gás de xisto,
energia fotovoltaica, biomassa, eólica, lâmpadas de led, dentre outras.
Os maiores exemplos são a Alemanha,
China, Estados Unidos e Canadá, que rapidamente se tornaram detentores das
novas tecnologias de geração de energia. Estados Unidos e Canadá com a exploração
do gás de xisto; China, como o maior produtor de painéis solares, turbinas
eólicas e lâmpadas de led; e a Alemanha, com outras tecnologias.
Assim, esses países criaram milhões
de “greenjobs”, dominando a tecnologia e ofertando mais um produto de exportação:
as tecnologias limpas e geração de energia a baixo custo. Na contramão do
mundo, o Brasil optou por destruir a indústria de energia limpa, onde era
referência mundial: produção de etanol, geração de biomassa e energia hídrica,
em prol de um sonho megalomaníaco, “o pré-sal”.
As consequências imediatas foram o
desemprego maciço no setor sucro-alcooleiro, forçando milhões de trabalhadores
do campo a inflar as favelas brasileiras, além do fechamento de inúmeros postos
de trabalho e fábricas de equipamento para pequenas centrais hidrelétricas
(PCHs) e geração de biomassa. Somando os desmontes da cadeia industrial, temos
o total colapso dos setores elétricos brasileiros, além do iminente risco de
apagão (negado, como sempre, pelo governo federal).
A consequência mais nefasta é a
destruição do futuro das novas gerações, pois milhões de “greenjobs” deixarão
de ser criados, já que o Brasil, conscientemente, optou por importar a
tecnologia limpa, restando como sempre o papel secundário de exportador de
commodites.
Os nossos jovens engenheiros terão de
buscar oportunidades de trabalho fora do Brasil.
“O último a sair, por favor, apague a
luz,” se houver luz.
Julien Dias é consultor da área de
energia elétrica, professor do Instituto Superior de Administração e Economia
da Fudação Getúlio Vargas, diretor de Project Finance e M&A da Electra
Power Geração de Energia e da Abrapch.http://www.linkedin.com/in/juliendias1
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