Especialistas alertam para aceleração do processo de leitura e escrita de crianças
Silane Souza - A Crítica - 12/12/2016A sociedade de um modo geral está cada vez mais restringido a infância das crianças ao incentivar a aceleração do processo de leitura e escrita. E a maioria dos pais está contribuindo com isso ao tirar os filhos mais cedo da pré-escola com a intenção de vê-los alfabetizados o mais rápido. O problema é que ao fazer a criança pular de etapa cria-se uma lacuna no seu desenvolvimento e isso irá fazer falta em algum momento da sua vida.
Para neuropsicopedagogas e psicólogas da Creche Escola Vida, instituição que há 15 anos trabalha com o método construtivista sociointeracionista com ênfase na psicomotricidade, não se deve contaminar a infância com tal dinâmica, pois o mais importante dessa fase de vida é que cada momento seja vivido na sua integralidade para que no futuro resulte um adulto saudável emocionalmente, socialmente e cognitivamente.
A coordenadora pedagógica Aline Keity Paula, relata que tem escolas particulares dando caligrafia para alunos de três anos. Nesse caso, o brincar, o desenvolvimento da coordenação motora e tudo aquilo que é importante para o desenvolvimento da criança estão sendo deixados de lado por causa do precoce processo de leitura e escrita. “Retirar o brincar da criança é suicidar sua infância porque é no brincar que ela cria e recria sua vida”, apontou.
Aline frisou que há 10 anos retiraram um ano da infância das crianças com a alfabetização indo para o fundamental I com o discurso que se preservaria as especificidades da faixa etária. Mas, hoje, crianças de três anos são incluídas nas salas de alfabetização precoce com a justificativa de que o mundo é competitivo e entre outros pretextos que mal sabem o que trará essa aceleração sem necessidade.
A dançaterapeuta Sâmara Evangelista, conta que o processo de prosperidade do adulto inicia quando ele nasce, por isso, é preciso respeitar as fases do andar, do falar, até três anos, por exemplo, a criança começa a ter raciocínio mais aliado e consegue formar frase. “Temos que respeitar esse processo de aprendizagem. Não é necessário acelerá-lo, pois tudo o que acontece nessa primeira infância da criança reflete na sua vida adulta”.
Frases:
“O brincar é terapeutizante, possibilita à criança ressignificar uma dor, uma perda, constrói suas emoções e a fortalece”.
“Se tratando de desenvolvimento não há receita de bolo. Claro que os pais se preocupam em criarem filhos bem sucedidos, mas não é acelerando ou pulando etapas que isso vai acontecer”.
Blog: Michelle Otranto, psicóloga da Creche Escola Vida
Essa questão do processo de leitura e escrita precoce está muito atrelada à cultura da nossa sociedade atual, que é imediatista. Percebemos essa característica nas famílias quando escutamos falarem com orgulho: ‘Meu filho não engatinhou, andou logo!’ ou ‘Minha filha está um ano adiantada na escola’. Essas são falas comuns, que escutamos com frequência, mas não nos damos conta sobre o que elas realmente representam. Ou seja, os pais ficam felizes ao constatar que o filho ‘pulou uma etapa’, pois acreditam que, teoricamente, ele estará um passo a frente das crianças da sua faixa etária. É exatamente esse pensamento que ocorre quando falamos da alfabetização precoce. Os pais ficam felizes e orgulhosos do seu filho estar lendo e escrevendo antes do previsto e acreditam que isso possa vir a ser reflexo de uma vida escolar e profissional de grande sucesso. Contudo, geralmente, é justamente o oposto que os especialistas em desenvolvimento humano observam. Isso porque a criança que ‘pula uma fase’ fica com uma lacuna no seu desenvolvimento.
Brincadeiras aliadas ao desenvolvimento
A diretora da Creche Escola Vida, Swely Imbiriba,ressalta que é no brincar que a criança pode desenvolver todo o seu cognitivo, seu emocional e ressignificar sua vida. Isso tudo deve acontecer na primeira infância. “Esse é o momento de fazer isso, não é no fundamental, muito menos na universidade”, destacou a neuropsicopedagoga.
Ela afirma que é ilusão dos pais em acreditar que passando o filho para a série seguinte ele vai se desenvolver da forma que se imagina, principalmente nos casos de crianças com patologias. “Vemos com mais frequência às escolas aceitando crianças com especificidades no fundamental enquanto ela precisa ser retida na educação infantil para que sejam trabalhadas as bases neurológica, emocional e social”, apontou.
Conforme Swely, antes da crise essas crianças não eram aceitas tão facilmente para o fundamental que ela não tem a menor condição de assumir. “No momento de crise escolas juntos aos pais tem ideia diferente da do profissional de educação. Nós temos que ter o olhar honesto e comprometido em orientar esses pais, mas o que vemos são escolas impondo aos pais a aceleração desse processo de leitura e escrita”, destacou.
Para ela, a criança precisa estar preparada para assumir a leitura e escrita. Essa preparação tem que ser feita na educação infantil. “Na Creche Escola Vida os profissionais preparam essa criança trabalhando com a psicomotricidade que vai lançando novas problematizações conforme sua evolução. Quanto mais à criança se conhece, percebemos melhor que ela está preparada para o processo de leitura e escrita”.
Criança mais socializada ao munda
A psicóloga Mariana Tapajós, levou a filha para estudar na Creche Escola Vida quando ela tinha 2 anos. Na época, Maria Luiza tinha dificuldades na fala. Hoje, com 4 anos, Luiza é uma criança segura, socializa com todo mundo, explora tudo, é sensível e presta atenção em tudo o que está ao seu arredor, conforme a mãe. “Eles nos ajudaram a fazer com que a gente acreditasse no potencial dela e ela evoluísse tão bem quanto fez”, relatou.
Thaís Tapajós, também psicóloga, viu a filha Alice Lifsitch, 5, ter enorme evolução ao estudar na Creche Escola Vida. “Hoje ela é uma criança segura, resolvida, falante e questionadora, socializa com todos. Precisamos de mais escolas e profissionais que segure a sociedade nas costas para proteger essa infância que precisa ser vivida de forma extraordinária e sensível para que as crianças sejam adultas ainda melhores, para que criamos uma sociedade melhor”, afirmou.
A neuropsicopedagoga Regina Tiradentes, foi outra que viu na Creche Escola Vida a possibilidade de as filhas terem uma verdadeira infância. “Elas não usam farda, brincam no chão, tem uma infância que muito de nós tivemos quando criança. Temos que oferecer e oportunizar isso para os nossos filhos também, pois percebemos que, mesmo solta no quintal, às crianças são disciplinadas, atentas, coordenadas, não adianta comprar lista de material para isso”, pontuou.
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