sábado, 24 de maio de 2014

A PERCEPÇÃO DO VAZIO.

Cap. 14 : A Percepção do Vazio - Texto sobre Taoísmo

  
Esta postagem refere-se ao capítulo 14 do livro Tao Té Ching de Lao Tsé. O título não é original do livro, mas foi criado por mim. Achei que o uso de um título seria interessante como uma maneira de sinalizar o assunto a ser tratado no texto. A partir de agora passarei a utilizá-los.

1) Poema

Aquilo que se olha e não se vê, chama-se invisível;
Aquilo que se escuta e não se ouve, chama-se inaudível;
Aquilo que se abraça e não se possui, chama-se impalpável.
Estes três não podem ser revelados,
Por isso se fundem e se tornam um.

Enquanto superior não é luminoso,
Enquanto inferior não é vago.

O Constante que não pode ser nomeado
É o retorno à não-existência,
É a expressão da não-expressão,
É a imagem da não-existência,
A isso se chama indeterminado.

Encarando-o, não se vê sua face,
Seguindo-o, não se veem suas costas.

Quem mantém o Caminho Ancestral
Pode governar a existência presente;
Quem conhece o Princípio Ancestral
Encontra a ordem do Caminho.

Tradução do chinês arcaico para o português por Wu Jyh Cherng:  http://www.livrosgratis.com.br/arquivos_livros/le000004.pdf



2) Comentários:

Existe algo anterior e mais profundo do que a forma, este algo é o Vazio, o Mistério. Neste poema, Lao Tsé o descreve como “invisível, inaudível e impalpável” e o que “não pode ser revelado”. Ele não pode se revelar no mundo das formas, nem ser percebido através dos nossos sentidos usuais.

Percebe-se o Vazio como uma qualidade que está em toda parte, no superior e no inferior, tanto acima quanto abaixo. Ele não é percebido como uma luz ou algo luminoso quando superior  e não é impreciso ou confuso enquanto inferior. Apesar de dizermos que uma pessoa é iluminada, isso não quer dizer que possamos perceber nela uma qualidade relativa à luz, ou algo que possa ser percebido como manifesto, como uma forma. Na verdade é um “espaço”, um silêncio, um vazio onde não há ego, não há resistência. Esta pessoa provavelmente terá uma postura de total aceitação das coisas como são. Suas palavras e atitudes serão precisas e retas, pois virão naturais, sem passar pelo filtro do ego, virão intuitivamente da sintonia com o “Eu Maior”.

Esse Mistério é o predecessor de tudo o que tem existência definida e mutável. A não-existência do Vazio é constante, não teve início, nunca terá fim, é o eterno Presente.  O eterno fluir de um silêncio profundo, que não pode ser limitado no mundo da forma.

Não adiantaria tentar encará-lo ou segui-lo, já que o Mistério está além do mundo da forma e não pode ser compreendido, observado ou buscado com a razão humana.

Quem mantém o Caminho Ancestral, ou a forma de viver natural (de acordo com a naturalidade), que é passada geração após geração, de mestre para discípulo, é capaz de governar a existência presente. Governar as próprias palavras e ações, ter auto-controle e discernimento. Quem conhece o Princípio Ancestral (o princípio de tudo, a essência de todas as coisas), encontra o ordem do Caminho, ou seja, a lei que tudo rege e que mantém a harmonia em todo o mundo manifesto.

Obs.: Esta é apenas a minha interpretação, sem a menor pretensão de ser correta ou definitiva. Gostaria de conhecer outras percepções a respeito do tema.  Ficarei grata aos que compartilharem suas ideias.



3) Citações:

Achei que seria interessante utilizar citações de livros que abordam o tema proposto da sua maneira particular. Desta forma espero abarcar mais pontos de vista e alcançar um entendimento mais profundo.

“A parte não manifestada do Tao é algo anterior ou fora da forma, que chamamos Tao do Céu Anterior. E o mundo manifestado, o Tao em estado manifestado, nós chamamos de Tao do Céu Posterior.

O Tao do Céu Anterior não possui forma nem linguagem e está além das imagens, por isso abrange e inclui todas as formas e todas as imagens. É como o silêncio que abrange todos os sons e todos os tons, é como a ausência de cor que permite o surgimento de todas as cores, de todos os matizes. Esse “vazio” é o Tao do Céu Anterior.

A parte manifestada do Tao é exatamente o Universo onde estamos. Nós somos o Tao em estado manifestado e convivemos com (e possuímos) o Tao em estado latente.

Como a nossa consciência, o nosso corpo e a nossa energia estão acostumados apenas com a vivência da forma, da imagem e da linguagem, normalmente nós não conseguimos sentir e experimentar o estado latente do Tao. Simplesmente como uma pessoa não poderia descrever o gosto daquilo que não tem um sabor ou descrever o formato daquilo que não possui forma. Mas não se poderia dizer que aquilo que não possui forma não existe. Se o que possui forma existe para nós, o que não a possui, apesar de fora da nossa compreensão e da nossa experiência, também não deixaria de existir, pois é exatamente complementar àquilo que podemos sentir. Só que não podemos senti-lo através da condição da forma e da linguagem.

O que distingue a Teologia Taoísta (a exemplo de outras cosmovisões primitivas que tinham um conceito de Deus mais abrangente, mais ‘feminino’) é que, para nós, acima de um Deus onipotente e onipresente, ainda existe um Deus absoluto, a Consciência do Céu Anterior, o Tao em estado la
 tente.”

Wu Jyh Cherng - Iniciação ao Taoísmo, volume 1

...

“A maior parte das pessoas confunde o Agora com o que acontece no Agora. Mas não é isso. O Agora é mais profundo do que o que ocorre nele. É o espaço no qual tudo acontece.
Portanto, não confunda o conteúdo do momento presente com o Agora. O Agora é mais profundo do que qualquer conteúdo que exista nele.”

“Eu não sou os meus pensamentos, não sou minhas emoções, minhas percepções sensoriais e minhas experiências. Não sou o conteúdo da minha vida. Sou o espaço no qual todas as coisas acontecem. Eu sou a consciência. Sou o Agora. Eu Sou.”

“Você não possui uma vida, você é a vida. Você é a vida única, a consciência única, a consciência única que permeia todo o universo e assume temporariamente a forma de pedra, folha, animal, pessoa, estrela ou galáxia.”

“Quando você sabe que é a consciência na qual a vida externa acontece, torna-se independente do que existe externamente e perde a necessidade de buscar sua identidade nos fatos, nos lugares e nas situações. Em outras palavras: as coisas que acontecem ou deixam de acontecer perdem a importância, perdem o peso e a gravidade. Sua vida passa a ter outra graça e leveza. O mundo é então visto como uma dança cósmica, a dança da forma – só isso.”

“A consciência pura é a Vida antes de se manifestar, e essa Vida olha para o mundo da forma através dos seus olhos, porque a consciência é quem você é. Quando você se vê assim, então se reconhece em todas as coisas. É um estado de total clareza de percepção. Você deixa de ser alguém com um passado que pesa e através do qual todas as experiências são interpretadas.”

Eckhart Tolle – O Poder do Silêncio

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