Mudar a educação
Alessandra Aparecida Souza Lima MarquesA Educação no Brasil é um tema exaustivamente discutido e inesgotável no panorama da ampliação do potencial humano. De um lado, há exemplos edificantes, divulgados pela imprensa, em que escolas públicas sob iniciativa de seus gestores vem construindo histórias invejáveis. Do outro, um resultado conflitante com tal cenário, divulgado em 1º de abril, que coloca o Brasil no 38º lugar entre 44 países participantes do Pisa.
O Pisa é um programa de avaliação comparada, aplicada a estudantes na faixa etária de 15 anos. “O Programme for International Student Assessment (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) é desenvolvido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Tem como objetivo produzir indicadores que contribuam para a discussão da qualidade da educação nos países participantes a fim de subsidiar melhorias no ensino básico.”
O mais alarmante não é um estudo comparativo com outros países, tendo em vista as diferentes realidades, mas perceber que o país ficou abaixo da média estabelecida. Logo, as competências dos estudantes em leitura, matemática e ciências não foram suficientes para atingir o mínimo necessário.
Há que se pensar na educação de uma forma mais abrangente, que envolva não apenas políticas educativas, mas estratégias educativas, cujo foco nesse contexto não seja somente o “enunciatário”, mas também o enunciador.
Importante depreender que esses alunos, ao serem avaliados, estão tão somente reproduzindo o que assimilaram. Sendo assim, não há que se falar em responsabilidade unilateral; há partes envolvidas no mesmo processo. Diante de todas as adversidades encontradas, sejam de caráter estrutural ou econômico, a única certeza é de que a ineficácia do ensino está aparente. E a saída não se restringe aos conteúdos ensinados, mas a como estão sendo trabalhadas essas competências em sala de aula. Importante refletir se a maneira como as orientações estão sendo dadas não estão conflitantes com o perfil dos alunos atuais.
Hoje, a sociedade vive uma era de transição, um desmoronamento do passado. Enquanto muitos educadores advêm de uma cultura eminentemente verbal, os alunos contemporâneos, nativos digitais, vivem a cultura da imagem, devido aos estímulos visuais, demasiadamente explorados. Logo, o professor não é mais fonte de informação, ele ajuda a conectar essas informações e, assim, deve ser o primeiro a perceber o deslocamento de seu papel.
Se nos primórdios a cultura acadêmica era contemplativa, na atualidade está na contramão dessa propriedade. O educador precisa usar as mídias sociais a seu favor, pois isso possibilitará uma aproximação maior com seu aluno. Para tanto, é imprescindível que esses profissionais desenvolvam competências nem sempre atreladas ao uso do computador em si, mas também acompanhando as tendências e possibilidades que surgem no dia a dia.
O aluno, usuário habitual das novas tecnologias, nem sempre tem a maturidade para relacionar os conteúdos e filtrar as informações relevantes, pois na maioria das vezes faz uso superficial dessas informações e não consegue transformar o que se apresenta de forma fragmentada em efetivo aprendizado. O professor, nesse decurso, assume um papel primordial de catalisador do conhecimento.
A educação tradicional tornou-se obsoleta diante das tecnologias digitais, e os impactos dessas mudanças refletem o desinteresse de muitos alunos no universo acadêmico. Não há que se falar em finalidades divergentes, mas sim de metodologias conflitantes: a linguagem usada entre professor e aluno não está sendo a mesma. Portanto, é importante a experimentação do novo, seja na organização das aulas, utilizando aplicativos facilitadores da transmissão do conhecimento, seja estimulando e desafiando o aluno, fruto de uma geração extremamente tecnológica.
Abandonar a zona de conforto do velho modelo acadêmico torna-se um fator preponderante nessa revolução, e esta só é possível por meio de iniciativas ousadas e destemidas advindas do corpo docente.
Ainda que os conteúdos sejam os corriqueiros, as habilidades cognitivas devem ser trabalhadas com o propósito de ampliar o lado intelectivo do aluno , tornando mais efetiva sua formação como cidadão e, certamente, os resultados positivos serão consequência de um projeto reestruturado aos moldes da contemporaneidade.
* Formada em letras com habilitação em português e francês pela UFMG, pós-graduada em estudos linguísticos pela UNI-BH, bacharel em direito
Publicado originalmente no jornal O Estado de Minas
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