Viagem em 1960 de alunos do
Ginásio São João ao Rio de Janeiro
Éramos rapazolas com idades que
variavam de quatorze a dezoito anos. Adolescentes, portanto, adentrando com
curiosidade e muita expectativa no início da vida adulta.
Alunos do Ginásio São João fomos
premiados na quarta e última série do ginásio (ano de 1960) com uma viagem ao
Rio de Janeiro, a capital brasileira que se despedia desse status em favor de
Brasília. Muita emoção e curiosidade pelo que sabíamos ou ouvíamos falar da
Cidade Maravilhosa: suas praias e do mar que desconhecíamos, de suas belezas
naturais, das belas mulheres com fama de desinibidas se confrontadas com as
nossas conterrâneas.
A viagem de trem fazia o início
da grande aventura. Era mês de julho, em pleno inverno. A Maria-Fumaça, que nos
levaria até a cidade de Cruzeiro, em São Paulo , vinha de São Gonçalo e passava na
Estação muito cedo, por volta de cinco horas da manhã. Em Cruzeiro havia a
baldeação no Trem de Aço, uma composição férrea mais moderna, pois os vagões
eram revestidos de alumínio e aparentavam maiores e mais rápidos. O Trem de Aço
vinha de São Paulo e se dirigia para o Rio de Janeiro.
A seguir alguns incidentes nessa
epopéia cuja maioria mal conhecia os limites confrontantes dos morros que
faziam os horizontes de nossa cidade.
Durante a viagem na Maria-Fumaça
havia os previdentes que, com o receio de ficar o dia inteiro sem comer nada,
abasteciam-se de matulas e sanduíches zelosamente preparados pelas mães
precavidas. Um colega, no entanto, tomou essa precaução ao extremo. Dentro de
uma lata de bolachas, dessas antigas, conseguiu acondicionar um frango assado
inteiro com direito ainda a uma boa porção de farofa. Tudo isso muito bem
tampado, pois a vasilha era pequena para tanta comida.
Aí aconteceu o inesperado. Ao
destampar – com dificuldade – a lata, já motivo de curiosidade ou cobiça dos
colegas, o frango entalado no espaço exíguo saltou no corredor do vagão,
acompanhado de boa parte da farofa. Apesar disso, o frango foi consumido. Só a
farofa teve de ser varrida por um funcionário da RMV (Rede Mineira de Viação –
também apelidada de Ruim Mas Vai), e ninguém provou o gosto da farofa.
O professor que nos acompanhava,
e também idealizador da viagem, era o Irmão Rosário, que já conhecia o Rio e
tinha os seus pendores para gozações e ironias.
Proximamente à divisa de Minas
com o estado do Rio fez o comentário que não havia cerca especial dividindo os
dois estados. Isso para saciar a curiosidade de um aluno que olhava a janela em
busca da tal cerca divisória.
A chegada no Rio, já à noitinha,
recebeu algumas recomendações do professor. Nada de ficar olhando para o alto
ao enxergar os edifícios, uma novidade para a maioria, que os cariocas, muito
gozadores, iriam tirar sarro da mineirada caipira.
Já no primeiro dia um deslumbre
total: os prédios muito altos, a correria das pessoas, o trânsito amedrontador
de ônibus e carros, a doce sensação de que o mar estava perto e que veríamos
muita água num volume muito maior que qualquer lagoa já conhecida, isso afora o
barulho das ondas.
Foi uma semana inesquecível por
tantas novidades.
Andávamos somente de ônibus.
Imagine-se o cenário. Irmão Rosário, sempre de batina preta, acertava as
passagens e entrávamos no interior do ônibus em fila indiana, ressabiados e
comportados, sob o olhar atento e crítico dos demais passageiros.
Visitamos o Pão de Açúcar, o
Corcovado, o Maracanã, O jardim Botânico, o Museu da República, e andávamos a
pé no Centro do Rio sempre de olho em nosso professor, pois não podíamos ter o
risco de nos extraviarmos numa multidão e trânsito amedrontadores.
Desacostumados com os hábitos,
além de poucas informações acerca de uma cidade grande, pois – repita-se – a
maioria saía pela primeira vez da proteção paterna, alguns casos bizarros
aconteceram. Vamos a dois deles.
Almoçávamos num restaurante
popular, se não me engano chamado Calabouço. Servia-se a refeição num bandejão.
Um colega, que nunca tinha visto um prato compartimentado, acabou por misturar
os ingredientes salgados (arroz, feijão, bife) com a sobremesa, que era um
doce. Teve de comer a miscelânea de sal e açúcar sob os risos dos componentes
da mesa.
Outro, que andou de elevador pela
primeira vez, portanto tendo uma primeira experiência de ascensão vertical na
vida, perguntou ao ascensorista quanto era a corrida.
Apresentamos a seguir algumas fotos disponíveis dos integrantes dessa primeira e inesquecível epopéia.
Recebi este texto sem autoria. A redação tem o estilo do Dr. Paulo Lucas Nani.
Conheci aqui no passeio ao Rio de Janeiro: Alberto Marimbondo, Irmão Rosário, Paulo Fernando Ayres, Miltão do Frade, Elmo Souza Pereira e Paulo Lucas Nani. Se alguém identificar os outros, acrescente no comentário, logo abaixo.
O ginasianos visitando o Cristo Redentor.
Claro, o Pão de Açúcar era visita obrigatória.
Conheci aqui também o Paulo Afonso Castro, Darci Amorim, Celsinho Mendes, Julinho Grassi, Miltão, Elmo, Alberto e Irmão Rosário, mas ainda tem seis que não identifiquei.
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