sábado, 17 de outubro de 2015

ALUNOS DO GINÁSIO SÃO JOÃO NO RIO DE JANEIRO.

Viagem em 1960 de alunos do Ginásio São João ao Rio de Janeiro


Éramos rapazolas com idades que variavam de quatorze a dezoito anos. Adolescentes, portanto, adentrando com curiosidade e muita expectativa no início da vida adulta.
Alunos do Ginásio São João fomos premiados na quarta e última série do ginásio (ano de 1960) com uma viagem ao Rio de Janeiro, a capital brasileira que se despedia desse status em favor de Brasília. Muita emoção e curiosidade pelo que sabíamos ou ouvíamos falar da Cidade Maravilhosa: suas praias e do mar que desconhecíamos, de suas belezas naturais, das belas mulheres com fama de desinibidas se confrontadas com as nossas conterrâneas.
A viagem de trem fazia o início da grande aventura. Era mês de julho, em pleno inverno. A Maria-Fumaça, que nos levaria até a cidade de Cruzeiro, em São Paulo, vinha de São Gonçalo e passava na Estação muito cedo, por volta de cinco horas da manhã. Em Cruzeiro havia a baldeação no Trem de Aço, uma composição férrea mais moderna, pois os vagões eram revestidos de alumínio e aparentavam maiores e mais rápidos. O Trem de Aço vinha de São Paulo e se dirigia para o Rio de Janeiro.
A seguir alguns incidentes nessa epopéia cuja maioria mal conhecia os limites confrontantes dos morros que faziam os horizontes de nossa cidade.
Durante a viagem na Maria-Fumaça havia os previdentes que, com o receio de ficar o dia inteiro sem comer nada, abasteciam-se de matulas e sanduíches zelosamente preparados pelas mães precavidas. Um colega, no entanto, tomou essa precaução ao extremo. Dentro de uma lata de bolachas, dessas antigas, conseguiu acondicionar um frango assado inteiro com direito ainda a uma boa porção de farofa. Tudo isso muito bem tampado, pois a vasilha era pequena para tanta comida.
Aí aconteceu o inesperado. Ao destampar – com dificuldade – a lata, já motivo de curiosidade ou cobiça dos colegas, o frango entalado no espaço exíguo saltou no corredor do vagão, acompanhado de boa parte da farofa. Apesar disso, o frango foi consumido. Só a farofa teve de ser varrida por um funcionário da RMV (Rede Mineira de Viação – também apelidada de Ruim Mas Vai), e ninguém provou o gosto da farofa.
O professor que nos acompanhava, e também idealizador da viagem, era o Irmão Rosário, que já conhecia o Rio e tinha os seus pendores para gozações e ironias.
Proximamente à divisa de Minas com o estado do Rio fez o comentário que não havia cerca especial dividindo os dois estados. Isso para saciar a curiosidade de um aluno que olhava a janela em busca da tal cerca divisória.
A chegada no Rio, já à noitinha, recebeu algumas recomendações do professor. Nada de ficar olhando para o alto ao enxergar os edifícios, uma novidade para a maioria, que os cariocas, muito gozadores, iriam tirar sarro da mineirada caipira.
Já no primeiro dia um deslumbre total: os prédios muito altos, a correria das pessoas, o trânsito amedrontador de ônibus e carros, a doce sensação de que o mar estava perto e que veríamos muita água num volume muito maior que qualquer lagoa já conhecida, isso afora o barulho das ondas.
Foi uma semana inesquecível por tantas novidades.
Andávamos somente de ônibus. Imagine-se o cenário. Irmão Rosário, sempre de batina preta, acertava as passagens e entrávamos no interior do ônibus em fila indiana, ressabiados e comportados, sob o olhar atento e crítico dos demais passageiros.
Visitamos o Pão de Açúcar, o Corcovado, o Maracanã, O jardim Botânico, o Museu da República, e andávamos a pé no Centro do Rio sempre de olho em nosso professor, pois não podíamos ter o risco de nos extraviarmos numa multidão e trânsito amedrontadores.
Desacostumados com os hábitos, além de poucas informações acerca de uma cidade grande, pois – repita-se – a maioria saía pela primeira vez da proteção paterna, alguns casos bizarros aconteceram. Vamos a dois deles.
Almoçávamos num restaurante popular, se não me engano chamado Calabouço. Servia-se a refeição num bandejão. Um colega, que nunca tinha visto um prato compartimentado, acabou por misturar os ingredientes salgados (arroz, feijão, bife) com a sobremesa, que era um doce. Teve de comer a miscelânea de sal e açúcar sob os risos dos componentes da mesa.
Outro, que andou de elevador pela primeira vez, portanto tendo uma primeira experiência de ascensão vertical na vida, perguntou ao ascensorista quanto era a corrida.
Apresentamos a seguir algumas fotos disponíveis dos integrantes dessa primeira e inesquecível epopéia.   

  
Recebi este texto sem autoria. A redação tem o estilo do Dr. Paulo Lucas Nani.
Conheci aqui no passeio ao Rio de Janeiro: Alberto Marimbondo, Irmão Rosário, Paulo Fernando Ayres, Miltão do Frade, Elmo Souza Pereira e Paulo Lucas Nani. Se alguém identificar os outros, acrescente no comentário, logo abaixo.
O ginasianos visitando o Cristo Redentor.
Claro, o Pão de Açúcar era visita obrigatória.
Conheci aqui também o Paulo Afonso Castro, Darci Amorim, Celsinho Mendes, Julinho Grassi, Miltão, Elmo, Alberto e Irmão Rosário, mas ainda tem seis que não identifiquei.

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