SEMANA DO SACO CHEIO OU DA PRIMAVERA OU DA BATATA OU DA POUCA VERGONHA.
A maioria das escolas brasileiras está vivendo um período de recesso escolar que une as comemorações da padroeira da nação, do dia da criança e do dia do professor e oferece a professores e alunos uma semana sem aulas que inicialmente era conhecida como “Semana da Primavera” e depois popularizou-se como “Semana do Saco Cheio”. Que nome! Escutei uma criança de 5 anos dizendo: “Oba, semana do Saco Cheio e só tem aula ontem!”.
Fiquei com dó daquela criança que aos 5 anos de idade, nem bem dominando ainda as noções temporais, já traz em sua fala a ideia de que escola é coisa ruim, obrigatória e que ficar livre dela é fator de maior alegria do que receber os presentes que o consumismo provavelmente fará chegar às suas mãos em comemoração ao dia das crianças.
Fiquei pensando nas mais de 800 crianças que estimulei a compreender o mundo das letras, sendo alfabetizadas com 5 anos, de uma maneira lúdica e livre, respeitando o ritmo de cada uma e que demonstravam, diariamente, o maior prazer em carregar as plaquinhas e fichinhas com as letras ou palavras como se fossem tesouros queridos e preciosos. Crianças que apresentavam muita alegria em construir seu processo de letramento e que vivenciavam ao final do ano a realização de estarem editando o primeiro livro de sua autoria. Mas tudo é uma questão de valores! E valores não ensinamos através do que falamos, pregamos ou defendemos, mas sim, do que somos e vivemos.
Fiquei pensando que 19 anos se passaram desde que o Brasil aprovou uma Lei de Diretrizes e Base (LDBEN) que permite que os feriados sejam sazonais e decididos de acordo com a comunidade onde cada instituição se encontra. Mais ou menos como a alemã “Semana da Batata”, onde os alunos eram dispensados das aulas por necessidade e prazer de auxiliarem a família na colheita da batata que acontecia no outono. Este hábito que foi inspirador aos alunos das universidades brasileiras para criarem a Semana da Primavera, foi depois apelidado de “Semana do Saco Cheio” e generalizado em todo nosso país, para todas as idades, num insano esforço de unificação. Também é insano e sacrificante os sábados letivos, os dias escolares e outros subterfúgios criados para conseguirem ter os recessos e enquadrar (ou enjaular?) as funções escolares nos 200 dias letivos anuais.
A semana de recesso em outubro é um hábito que veio da antiga e agrícola Alemanha, país em que hoje, grande potência industrializada, ainda tem o disparate intelectual de destinar seus alunos, ainda crianças, de acordo com seus rendimentos nas provas externas oficiais, a cursarem escolas que lhes permitirão apenas cursos técnicos profissionalizantes (para os que obtiverem menores notas) ou que permitirão, às crianças com melhores rendimentos, ingressarem em instituições que já preparam crianças e adolescentes a frequentarem uma universidade quando jovem. Torço para que as universidades brasileiras não lancem mão desta triste herança do determinismo hitleriano.
Bem, voltemos ao recesso... Ontem li uma circular de uma instituição escolar de Ensino Fundamental que dizia: “Desejamos aos alunos excelente momento de descanso e que no retorno todos estejam bem preparados para a etapa final do ano letivo”. Se o laser é preparatório para enfrentar a “batalha” do final do ano porque a escola não se organiza para ampliar este pequeno tempo de 15/20 minutos que há, uma única vez no período escolar, entre as 4 ou 5 estressantes aulas expositivas de 50 minutos? Urge uma mudança na estrutura das atividades do dia a dia dos alunos para que eles se tornem efetivamente estudantes.
Enquanto estas mudanças não acontecem convivamos com o absurdo de, em tempo de PÁTRIA EDUCADORA, termos lá na região da Amazônia, na pequena São Gabriel da Cachoeira, com 23 mil habitantes sendo 90% indígenas que falam mais de 20 diferentes dialetos, centenas de pequenos indiozinhos, cidadãos brasileiros, também vivendo e aprendendo a comemorar "A Semana do Saco Cheio de Estudar".
Obs.: Você sabia que é possível a escola ser um lugar agradável, cheio de pessoas felizes e sábias? Basta tirar-lhe as grades e jaulas que tanto estressam seu corpo docente e discente. Leia o Terceiro Manifesto pela Educação em curto.co/3manifesto
Boa tarde..bom texo,boa reflexão...uma aprendiz da Casa da árvore ouviu a expressão semana do saco cheio e perguntou o que significava.Ao ouvir a explicacão retrucou:quero não,quero uma semana normal aqui na casa da árvore.Então?!
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