sábado, 31 de outubro de 2015

COMO TRAZER INOVAÇÃO PARA A SALA DE AULA?

Especialistas em educação discutem como trazer inovação para sala de aula

29/10/2015
noticias especialista discutem 170915
A ideia de que o modelo escolar não acompanhou a modernização da sociedade e a mudança no perfil dos alunos é uma crítica presente no discurso de grande parte dos educadores. A constatação não vem só, ao contrário, aparece colada a uma pergunta que rodeia o pensamento daqueles que discutem educação diariamente: como implementar a tão sonhada inovação? Para Helena Singer, assessora especial do ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, e Cesar Nunes, pesquisador da Unicamp e especialista em Desenvolvimento e avaliação da criatividade, não há uma receita pronta, mas ela certamente inclui alguns ingredientes: discussão e construção coletiva, autonomia para a comunidade acadêmica e vontade real de colocar novas técnicas em prática. A importância da inovação foi discutida nesta sexta-feira durante o Encontro internacional Educação 360, que acontece na Escola Sesc de Ensino Médio, em Jacarepaguá.
— Estamos falando de uma transformação de todos os aspectos da instituição escolar. Do ponto de vista da gestão escolar é necessário que as instituições tenham um projeto pedagógico conhecido por todos. Buscamos uma instituição que se coloca como produtora de conhecimento e cultura onde está, e não reprodutora. Estamos procurando estratégias que reconheçam o estudante como autor — afirmou Nunes.
Ao contrário do que possa se pensar, inovação e criatividade não significam deixar de lado a aprendizagem de conteúdos regulares. Helena Singer argumenta que um novo perfil de escola pode inclusive impulsionar a apreensão desses conteúdos. Ela argumenta que novas práticas surtiriam efeito mesmo em avaliações tradicionais como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
— A inovação e criatividade também deve garantir aprendizado, não basta ser inovador e criativo e não aprender. Essas características fornecem o aprendizado de saber pesquisar, escrever, colocar desafios e enfrentá-los. Uma instituição inovadora e criativa deve fornecer instrumentos necessários para o aluno enfrentar o Enem. Mas, de forma nenhuma, a preparação para uma prova deve levar 14 anos. Os pais se preocupam em escolher uma escola que teve o melhor resultado no Enem ainda quando a criança está nos anos iniciais — criticou Helena.
— A forma de organizar a escola, metodologia, a relação com a comunidade são formas mais alinhadas com os desafios do século XXI, um mundo que as tecnologias de comunicação revolucionou, no qual as relações do mundo do trabalho são muito mais imprevisíveis do que eram antes. A gente espera que daqui a algum tempo a maior parte das instituições educativas estejam mais alinhas com esses desafios — afirmou Helena.
Para agilizar essa transformação, a educadora conta com a eficácia de um projeto lançado na semana passada pelo Ministério da Educação (Mec) e do qual é uma das coordenadoras. O "Inovação e Criatividade na Educação Básica" é uma chamada pública que pretende mapear e estmular iniciativas inovadoras no Brasil. A proposta pretende identificar onde estão localizadas as instituições e pessoas que disseminam práticas criativas na educação básica e ampliar seu impacto no território nacional.
A tarefa, porém, não é simples. De acordo com César Nunes, um dos principais fatores para fazer com que a educação inovadora vire realidade é ter uma vontade real de implementar mudanças:
— Não temos a intenção de fato de realizar essa mudança. Temos uma visão hipócrita: dizemos que queremos, mas na hora de colocar as ações em prática não somos coerentes com nosso desejo. Se queremos de verdade a criatividade, temos de abrir espaço para que as atividades sejam criativas. Ter uma coerência entre o que quer e o que faz é fundamental. Em segundo lugar, é necessário saber que vai levar tempo. Em geral, as pessoas falam: "já passaram seis meses, não está acontecendo nada, vamos fazer outra coisa". O tempo de amadurecimento de transformar uma cultura é um tempo lento.
Nesse sentido, a construção coletiva se torna uma aliada importante para fazer com que o discurso vire realidade. Segundo os especialistas, observar as experiências de outros professores e aprender com elas é uma ferramenta eficaz de promoção da inovação. Atrelado a isso, criatividade para desenvolver novas lições de sala de aula, métodos de avaliações e maneiras de transmitir conteúdo são necessárias aos professores, no entanto, eles não podem ser os únicos responsáveis pelo conhecimento.

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