ABMAQ- AUMENTO TAXA SELIC: QUEM GANHA COM ISSO ?
FPA- O (quase) inútil aumento da Selic e o ajuste fiscal -
FPA- O (quase) inútil aumento da Selic e o ajuste fiscal -
26/jan/2015 -
Ernesto Pereira
"""... cada
aumento de 0,5 p.p. na taxa básica eleva os encargos da dívida pública em cerca
de R$ 10 bilhões ao ano. Com isso, as três altas do ciclo atual que, ao
totalizar 1,25 p.p., expandiram esse custo em R$ 25 bilhões, mais que compensam
o aumento da arrecadação no ano, que deve alcançar cerca de R$ 20 bilhões,
previsto como fruto da implantação de todas as medidas tributárias anunciadas no
mês. Na contramão do esforço fiscal, o aumento dos juros interpõe um sério
obstáculo à redução da dívida do governo.
Se em vista de
sua clara ineficiência e de seus evidentes impactos distributivos perversos, a
conveniência do uso da taxa básica de juros como instrumento principal, quando
não único, de combate à inflação no Brasil sempre foi questionável, ao sabotar
hoje um dos objetivos centrais do ajuste fiscal erguido em prioridade, o
endurecimento da política monetária em curso se torna ainda mais difícil de
justificar."
"""Elevar a taxa básica de juros, a Selic, é um crime contra o investimento
produtivo. A intenção do presidente do Banco Central, de dar uma “paulada” nos
juros, significa um tiro de canhão nos investimentos, justamente em um momento
que o País precisa investir para que não haja inflação de demanda (março de 2010
foi o melhor mês da história da indústria de máquinas em faturamento, mas o
aumento da taxa de juros poderá comprometer a continuidade desta
recuperação).
Mais uma vez, com essa medida, todos os setores serão penalizados, menos um, que é o sistema
financeiro. A cada 1% de aumento na taxa Selic o setor financeiro lucra cerca de
R$ 12 bilhões a R$ 13 bilhões, com a rolagem da dívida pública. Se o movimento fosse inverso, a economia que o governo faria
seria suficiente para realizar a desoneração total dos
investimentos.
Vale ressaltar que, de
acordo com dados do FMI – Fundo Monetário Internacional, a participação do PIB
brasileiro no PIB mundial em 1990 era de apenas 3,2% e, pasmem, pois passados
quase 20 anos, em [2008], esta participação caiu para 2,7%, ou seja, de fato o
país está estagnado.
Essa
é a política que, há anos, vem fazendo do Brasil um país pobre, onde poucos
privilegiados ganham muito e a grande maioria da população transfere riquezas
para o setor financeiro. Até quando vamos suportar isso? Até quando vamos ter
que conviver com a maior taxa de juros do mundo?"
Se deseja
colaborar para promover este debate, silenciado na Mídia Corporativa [1],
reflita sobre e compartilhe esta mensagem e a postagem
abaixo
[1] Preste
atenção em quem patrocina os jornais, revistas e telejornais que você
assiste (= renda dos comentaristas
de economia))
AUMENTO DA TAXA SELIC: QUEM GANHA COM ISSO
?
Em
recente entrevista concedida a um jornal de grande circulação, o Presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, dizia que seria necessária uma “paulada” na
taxa básica de juros.
A
paulada veio e a taxa Selic aumentou em 0,75%, com a sinalização de que, até o
final do ano, estará próxima dos 12%. A “paulada” foi dada, mas nos
investimentos. Elevar a taxa básica de juros, a Selic, é um crime contra o
investimento produtivo. A intenção do presidente do Banco Central, de dar uma
“paulada” nos juros, significa um tiro de canhão nos investimentos, justamente
em um momento que o País precisa investir para que não haja inflação de demanda
(março de 2010 foi o melhor mês da história da indústria de máquinas em
faturamento, mas o aumento da taxa de juros poderá comprometer a continuidade
desta recuperação).
Mais uma vez, com essa
medida, todos os setores serão penalizados, menos um, que é o sistema
financeiro. A cada 1% de aumento na taxa Selic o setor financeiro lucra cerca de
R$ 12 bilhões a R$ 13 bilhões, com a rolagem da dívida pública. Se o movimento
fosse inverso, a economia que o governo faria seria suficiente para realizar a
desoneração total dos investimentos.
Para se ter uma ideia,
apenas a título de exemplo, o Itaú Unibanco, maior banco privado do Brasil, teve
alta de 60,5 % no lucro líquido somente no primeiro trimestre, comparado a igual
período do ano passado. O lucro do banco foi de R$ 3,2 bilhões em apenas 03
meses. Não somos contra o lucro, mas os números mostram que há algo de errado,
pois simultaneamente o setor produtivo convive com uma perda de competitividade
sistêmica (custo Brasil, juros altos e câmbio).
Enquanto o sistema financeiro bate recorde nos lucros, a indústria
de transformação, que gera produtos de valor agregado, tecnologia e empregos que
remuneram bem, assiste, sem poder de reação, a queda vertiginosa nas exportações
e ao assustador crescimento das importações em substituição à produção
nacional. As contas externas estão vulneráveis e,
infelizmente, não há ganhos de produtividade, ou medidas paliativas por parte do
governo, que possam compensar o desnível atual do câmbio.
Nos
últimos 15 anos o Brasil ostenta uma triste posição, a de País com a maior taxa
básica de juros do mundo. Com isso, o Brasil permaneceu estagnado, deixou de
crescer, gerou dívidas públicas gigantescas e criou uma carga tributária
insuportável para financiar suas despesas (que não param de crescer) e a dívida
interna.
Tenho
a certeza de que há outras medidas para se conter a inflação, que em minha
opinião está controlada, como por exemplo, a restrição do crédito ao consumidor
(diminuir os prazos de financiamentos para os bens de consumo em geral), o que
poderia contribuir para reduzir o consumo e, conseqüentemente, diminuiria a
pressão sobre a inflação, sem prejuízo aos investimentos em curso.
A alta dos juros estimula a entrada de capital especulativo e, ao
mesmo tempo, significa “um balde de água fria” sobre aqueles que desejam
investir para aumentar a capacidade produtiva do País, um verdadeiro desestímulo
aos setores que deveriam estar à plena carga em seus investimentos, justamente
em um momento que a indústria necessita investir para aumentar o nível de oferta
e, conseqüentemente, eliminar o risco de inflação de demanda. Certamente o aumento da taxa Selic
contribuirá para que o Brasil continue a ter uma vergonhosa taxa de investimento
(Formação Bruta de Capital Fixo), que é em média de 16,9% do PIB, enquanto nos
demais países da América Latina a média é de 19%. Vale ressaltar que na índia,
Rússia e, principalmente na China, a taxa média de investimento é de
34%.
Tenho
a convicção de que, no atual momento, em que o setor de máquinas e equipamentos
(um setor estratégico para qualquer país desenvolvido) ensaia uma recuperação no
nível de atividades, falar em aumento da taxa SELIC é espalhar o desânimo pelo
setor produtivo, é, de novo, colocar o Brasil em situação de estagnação, é
privilegiar o capital especulativo e paralisar o investimento.
Vale ressaltar que, de acordo com dados do FMI – Fundo Monetário
Internacional, a participação do PIB brasileiro no PIB mundial em 1990 era de
apenas 3,2% e, pasmem, pois passados quase 20 anos, em [2008], esta participação
caiu para 2,7%, ou seja, de fato o país está estagnado.
Essa é a política que, há anos, vem fazendo do Brasil um país
pobre, onde poucos privilegiados ganham muito e a grande maioria da população
transfere riquezas para o setor financeiro. Até quando vamos suportar isso? Até
quando vamos ter que conviver com a maior taxa de juros do mundo?
Luiz
Aubert Neto - Presidente ABMAQ
O (quase) inútil aumento da Selic e o ajuste fiscal -
26/jan/2015 - Ernesto
Pereira
Contrastando com a situação internacional em que as
taxas básicas de juro na maioria dos países atingem seus mínimos históricos, o
Banco Central, em decisão na última reunião do Copom, 21 de janeiro, promoveu um
novo aumento
da meta para a taxa Selic que garante ao Brasil a posição de único país capaz de
disputar com a Rússia, que acabou de sofrer a maior crise cambial desde os anos
1990, o título de taxa real de juros mais alta do mundo, muito à frente dos
demais países, inclusive de alguns com inflação superior à brasileira como
Turquia e Indonésia.
O objetivo declarado do aumento das taxas é o de, ao conter a
expansão da demanda, combater as pressões inflacionárias. Poderia causar algum
estranhamento que o controle da demanda seja um objetivo central da política
numa economia semi estagnada. Na realidade, isso revela os problemas da
concepção do processo inflacionário brasileiro na qual se apoia a política de
juros excepcionalmente elevados que, ao longo dos mais de vinte anos em que vem
sendo aplicada no país, coleciona apenas resultados pífios, previsíveis para uma
política que menospreza características relevantes da inflação no
país.
Em
primeiro lugar, o Brasil ainda conserva vários mecanismos formais e
informais de indexação automática herdados do período de alta inflação que
não são afetados por uma política monetária “dura”.
Em
segundo, grande, senão a maior parte da inflação decorre não de pressões
de demanda, mas de aumentos de custo. Esses aumentos, contra os quais as
altas nos juros são simplesmente inócuas, resultam dos fortes e frequentes
choques de oferta que têm impactado especialmente os preços da energia (cujos
recentes reajustes são claros exemplos) e dos alimentos; da progressiva e
altamente volátil desvalorização da moeda, revertendo apenas parcialmente anos
de forte valorização; e das bem-vindas transformações estruturais no mercado de
trabalho que têm levado ao aumento relativo dos salários mais baixos.
Em
terceiro, mesmo para controlar pressões de demanda, variações na taxa de
juros são, no Brasil, particularmente ineficientes. Isto porque, entre
aqueles que possuem recursos excedentes, são na prática raras as situações em
que decisões de gasto são adiadas em resposta ao aumento dos juros. Ao
contrário, ao elevar a renda dos investidores em títulos públicos, o aumento da
Selic expande (pouco) sua demanda. Por outro lado, entre aqueles que tomam
crédito para consumir, os spreads singularmente elevados no país fazem com que
os aumentos na Selic, diferentemente do que ocorre em outros países, provoquem
variações relativamente pequenas nas taxas finais (mesmo que integralmente
repassado, um aumento de 1 p.p. elevaria a taxa média de juros do cheque
especial de 191% para 192%), impactando apenas marginalmente o consumo. Além
disso, em razão da renda média baixa, em geral não é a taxa de juros que limita
o consumo apoiado no endividamento, mas sim o valor da parcela a ser paga, quase
insensível à Selic.
Finalmente,
aumentos na taxa de juros, ao elevar imediatamente o custo financeiro das
empresas, geram pressões para o aumento dos preços, e, ao afetar mais os
investimentos que o consumo, limitam a expansão da capacidade produtiva
contribuindo para a geração de pressões inflacionárias no futuro.
Ou seja, os aumentos da taxa básica de juros são inadequados para
reduzir a indexação, inócuos para refrear a inflação de custos, ineficazes para
controlar a demanda, e ainda provocam pressões de custos sobre as empresas
pressionando os preços. Isso não significa, todavia, que esses aumentos sejam
totalmente inúteis para controlar a inflação. De fato, ao produzir taxas
excepcionalmente elevadas, seu efeito sobre a demanda, mesmo que pequeno, não é
irrelevante, e acaba contribuindo marginalmente para limitar a propagação dos
aumentos de preços que, diretamente, são incapazes de conter. Além disso, em
especial se há abundância de liquidez externa, o aumento dos juros contribui
para valorizar a taxa de câmbio e, assim, moderar o preço dos bens
comercializáveis, mesmo que à custa do impacto negativo sobre a competitividade
da indústria e suas perspectivas de crescimento e mesmo
sobrevivência.
O aumento da taxa de juros não é,
portanto, completamente inútil, embora seja extremamente ineficiente para
controlar a inflação. Ainda, carrega um enorme impacto negativo sobre as
finanças públicas. De fato, cada aumento de 0,5 p.p. na taxa básica eleva os
encargos da dívida pública em cerca de R$ 10 bilhões ao ano. Com isso, as três
altas do ciclo atual que, ao totalizar 1,25 p.p., expandiram esse custo em R$ 25
bilhões, mais que compensam o aumento da arrecadação no ano, que deve alcançar
cerca de R$ 20 bilhões, previsto como fruto da implantação de todas as medidas
tributárias anunciadas no mês. Na contramão do esforço fiscal, o aumento dos
juros interpõe um sério obstáculo à redução da dívida do governo.
Se em vista de sua clara ineficiência e
de seus evidentes impactos distributivos perversos, a conveniência do uso da
taxa básica de juros como instrumento principal, quando não único, de combate à
inflação no Brasil sempre foi questionável, ao sabotar hoje um dos objetivos
centrais do ajuste fiscal erguido em prioridade, o endurecimento da política
monetária em curso se torna ainda mais difícil de justificar.
Tags:
inflação, taxa Selic
Nenhum comentário:
Postar um comentário