domingo, 4 de outubro de 2015

ATENÇÃO MAMÃES.FACILITE A SUA VIDA.

Atividade cerebral é maior em quem ouve histórias de ninar

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Perri Klass - UOL 
Pouco mais de um ano atrás, a Academia Americana de Pediatria divulgou uma diretriz dizendo que todos os cuidados pediátricos primários deveriam incluir a promoção da leitura, começando no nascimento.

Isso significa que os pediatras deveriam aconselhar rotineiramente os pais da grande importância da leitura, mesmo para as crianças menores. A diretriz, que escrevi com Pamela C. High, contava com uma análise crítica da pesquisa volumosa sobre os vínculos entre crescer com livros e leitura em voz alta e o desenvolvimento posterior da linguagem e do sucesso escolar.

Porém, embora saibamos que ler para uma criança pequena esteja associado a bons resultados, existe uma compreensão limitada de qual mecanismo pode estar envolvido. Dois estudos novos examinam as interações inesperadamente complexas que acontecem quando se coloca uma criança no colo e se abre um livro com gravuras.

Neste mês, o periódico “Pediatrics” publicou um estudo que utilizou ressonância magnética funcional para estudar a atividade cerebral de crianças de três a cinco anos enquanto ouviam histórias adequadas à idade. Os pesquisadores encontraram diferenças na ativação do cérebro de acordo com a quantidade de leitura que as crianças estavam acostumadas em casa.

Crianças cujos pais relataram mais leitura em casa demonstraram ativação significativamente maior de áreas cerebrais em uma região do hemisfério esquerdo chamada córtex de associação parietal-temporal-occipital. “Essa área cerebral é toda voltada à integração multissensorial, que integra som e estimulação visual”, afirmou o autor principal, John S. Hutton, pesquisador clínico do Centro Médico Hospitalar Infantil de Cincinnati, nos Estados Unidos.

Essa zona é conhecida por ser muito ativa quando crianças mais velhas leem para si mesmas, mas Hutton observa que ela também é estimulada quando as mais novas escutam histórias. A grande novidade é o fato de as crianças expostas a muita leitura em casa mostrarem uma atividade significativamente maior nas áreas do cérebro que processam a associação visual, embora a criança estivesse no aparelho apenas ouvindo uma história e não pudesse ver as ilustrações.

“Quando as crianças estão ouvindo a narrativa, a mente fica imaginando a história. Por exemplo, ‘o sapo saltou o tronco’. Eu vi um sapo antes, vi um tronco antes. Qual é o sentido disso?”, disse Hutton.

Segundo ele, os níveis diferentes de ativação cerebral sugerem que as crianças com mais prática no desenvolvimento dessas imagens visuais, enquanto olham as gravuras dos livros e escutam as narrações, podem desenvolver habilidades que as ajudarão mais tarde a compor imagens e histórias a partir de palavras.

“Isso as auxilia a compreender qual é a aparência das coisas e pode ajudar na transição a livros sem ilustrações. Vai ajudá-las posteriormente a serem leitores melhores porque desenvolveram aquela parte do cérebro que as auxilia a ver o que está acontecendo na história.”

Hutton especulou que o livro também pode estar estimulando a criatividade de forma diferente de desenhos animados e outros entretenimentos em telas.

“Quando lhes mostramos o vídeo de uma história, damos um curto-circuito nesse processo?”, ele questionou. “Estamos tirando o trabalho delas? Elas não precisam imaginar a história, simplesmente apresentada para as crianças.”

Nós sabemos que é importante que as crianças pequenas escutem linguagem e que elas precisam ouvi-la de pessoas, não de telas. Infelizmente, existem grandes disparidades em quanta linguagem as crianças escutam –de maneira mais famosa demonstrada no estudo de Hart e Risley, segundo o qual as crianças pobres ouviam milhões de palavras a menos aos três anos de idade.

Porém, acontece que ler para –e com– crianças pequenas pode ampliar a linguagem que escutam mais do que apenas o falar. Em agosto, “Psychological Science” informou sobre pesquisadores que estudaram o conteúdo da linguagem dos livros ilustrados. Eles reuniram uma seleção de recomendações de professores, os mais vendidos da Amazon e outras obras que os pais poderiam ler na hora de dormir.

Ao comparar a linguagem dos livros com a utilizada pelos pais para falar com os filhos, os pesquisadores constataram que os livros de gravuras continham mais “tipos de palavras únicas”.

“Os livros contêm uma maior diversidade de palavras do que a fala direcionada às crianças”, disse a autora principal, Jessica Montag, psicóloga assistente de pesquisa da Universidade da Califórnia, campus de Riverside.

Então, ler livros ilustrados com crianças pequenas pode significar que elas escutam mais palavras, enquanto, ao mesmo tempo, os cérebros praticam a criação de imagens associadas àquelas palavras –e com as frases mais complexas e os versos presentes mesmo em histórias simples.

Passei boa parte da minha carreira trabalhando com uma ONG que trabalha com funcionários do setor da saúde para incentivar os pais a desfrutar livros com os filhos bebês e na pré-escola. Neste ano, nossos 5.600 endereços distribuirão 6,8 milhões de livros (incluindo muitos para crianças pobres), além de orientação para mais de 4,8 milhões de crianças e seus pais. O grupo também ofereceu algum auxílio à pesquisa de Hutton.

Estudos da ONG mostram que o vocabulário das crianças na pré-escola melhora quando os pais leem mais. Todavia, mesmo sendo alguém que já pensa assim, estou fascinado pelas maneiras que a nova pesquisa tenta explicar a complexidade e os mecanismos subjacentes de algo que pode parecer fácil, natural e simples. Quando levamos livros e lemos nos exames médicos, nós ajudamos os pais a interagir com os filhos e a ajudar as crianças a aprender.

“Acho que nós aprendemos que a leitura precoce é mais do que apenas uma coisa legal a se fazer com as crianças”, disse Hutton. “Ela realmente desempenha um papel importante na formação das redes cerebrais que auxiliarão as crianças a longo prazo à medida que passarem do verbal para a leitura.”

E como todo pai que lê história de ninar sabe, isso tudo está acontecendo durante um contato cara a cara, pele a pele e essencial para a segurança e conforto. É por isso que os pequenos sempre pedem a mesma história, e é por isso que pais ficam com os olhos marejados (principalmente aqueles com filhos adultos) quando encontram um velho livro com histórias de ninar.

(UOL, via The New York Times)

Perri Klass é médica e escreve para o jornal americano “The New York Times”

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