Os povos de Lagoa Santa
Sepultamentos humanos em Minas Gerais revelam uma sucessão de
costumes entre 10 mil e 8 mil anos atrás
MARIA GUIMARÃES |
ED. 247 | SETEMBRO 2016
Um abrigo em meio ao Cerrado, a Lapa do Santo parece ter
sido um importante centro de rituais ligados à morte
Uma abertura
na face de um penhasco em meio ao Cerrado na região de Lagoa Santa, Minas
Gerais, tem revelado surpresas a arqueólogos, biólogos e antropólogos. Essa
caverna, a Lapa do Santo, já foi um importante centro de rituais ligados à
morte, como revelam escavações descritas em artigo em processo de publicação na
revista Antiquity, uma das mais prestigiadas da área. Padrões de
sepultamento complexos, com desmembramento de corpos e disposição seguindo
regras precisas, revelam uma sucessão de culturas muito distintas em um período
que se considerava homogêneo, por volta de 10 mil anos atrás. “O maior mérito
foi enxergar essas transformações culturais ao longo do tempo, que por algum
motivo ninguém tinha percebido”, avalia o arqueólogo brasileiro André Strauss,
professor visitante na Universidade de Tübingen e doutorando no Instituto Max
Planck, ambos na Alemanha, autor principal do artigo. O estudo vai além da morte
e permite uma espiadela em como viviam e quem eram essas pessoas.
Strauss
sentiu que ali havia algo especial no primeiro ano do curso de geologia na
Universidade de São Paulo (USP), quando teve sua primeira expedição de campo
como estagiário do bioantropólogo Walter Neves, do Instituto de Biociências da
Universidade de São Paulo (IB-USP), em 2005. “Eu ficava no fundo de uma
trincheira de 2 metros de profundidade, cavando e peneirando o que encontrava.”
Foi desse posto que Strauss se encantou com o que havia por descobrir ali e
queria fazer algo diferente de se concentrar na medição de crânios e na busca
por indícios de coexistência com grandes animais, a megafauna. Esse era o foco
das pesquisas realizadas ainda no século XIX, quando o naturalista dinamarquês
Peter Lund descobriu ossos humanos associados aos de grandes animais numa
caverna de Lagoa Santa e iniciou uma tradição de escavação no que se tornou uma
das mais longevas regiões arqueológicas no país. Cinco anos depois, já no
mestrado sob a orientação de Neves, Strauss viu que havia alguma ordem na
confusão aparente do sítio: o que parecia uma mistura de ossos sem sentido na
verdade seguia um padrão. “É difícil perceber as sutilezas, os sepultamentos são
muito complexos.”
“Isso
foi possível porque o Walter inverteu a ordem habitual dos procedimentos de
campo”, afirma Strauss. A arqueologia brasileira, segundo ele, concentra-se em
artefatos, de maneira geral, e apenas chama especialistas em fósseis humanos
quando ossos são encontrados. “Muitos esqueletos são danificados no processo.”
Nos projetos de Neves, que desde 1988 analisa a evolução humana na América, com
estudo de caso nessa região, são os bioantropólogos que coordenam a escavação e
documentam tudo o que aparece, com especialistas para analisar os artefatos – na
Lapa do Santo, lascas de pedra e ferramentas de osso como espátulas, buris e
(raramente) anzóis.
Nessa
caverna, onde há paredes decoradas com desenhos em relevo que indicam rituais de
fertilidade (imagens fálicas), o resultado foi marcante. Strauss, Neves e
colegas identificaram três períodos distintos de ocupação humana, o mais antigo
entre 12,7 mil e 11,7 mil anos atrás. Entre 2001 e 2009, foram exumados e
analisados 26 sepultamentos humanos ocorridos aproximadamente entre 10.500 e 8
mil anos atrás que revelam práticas mortuárias altamente variáveis e nunca antes
descobertas nas terras baixas da América do Sul, descritas no artigo da
Antiquity e em outro assinado apenas por André Strauss, publicado na
edição de janeiro-abril do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi.
“Existiram
práticas funerárias altamente sofisticadas nos Andes”, conta Neves, “mas as
múmias chilenas já estudadas são mais recentes do que o material da Lapa do
Santo”. Outra distinção é que na caverna mineira não há oferendas mortuárias,
enquanto a prática habitual de caçadores-coletores era sepultar os mortos
acompanhados ao menos de seus pertences. “A complexidade das práticas da Lapa do
Santo não reside nos objetos, mas numa alta manipulação do corpo e do esqueleto
de maneira muito sofisticada”, afirma o professor da USP.
Rituais
de morte
O padrão de sepultamento mais antigo, datado entre 10.600 e
9.700 anos atrás, foi descrito com base em um homem e uma criança de cerca de 5
anos, ambos enterrados inteiros. A criança foi posta sentada, com as pernas
dobradas e os joelhos próximos à cabeça. A mandíbula afastada, como se a boca
estivesse aberta, indica que a cova não foi completamente preenchida.
A remoção de
partes dos cadáveres em seguida à morte caracteriza o período seguinte, entre
9.600 e 9.400 anos atrás. Representado por sete sepultamentos, mais alguns ossos
avulsos, esse conjunto ficou descrito como o segundo padrão. Alguns dos
esqueletos estavam articulados, mas com partes faltando. Um caso marcante foi o
de um homem cuja cabeça parece ter sido removida horas depois da morte e enterrada
com as duas mãos (também decepadas, como atestam marcas de corte em ossos do
punho) cobrindo o rosto – uma voltada para cima e outra para baixo, como
Strauss e colaboradores descreveram em 2015 na revista PLoS One.
Outros
esqueletos estavam completamente desmembrados e arrumados em fardos, indicando
que os ossos foram armazenados juntos, talvez embrulhados, e enterrados apenas
depois de descarnados e secos. Muitos dos ossos isolados também passaram por
alterações como queima, cortes, aplicação de pigmento vermelho e remoção dos
dentes. Em alguns casos, eram combinados ossos de criança (uma ou duas) com o
crânio de um adulto, ou vice-versa, de uma maneira que sugere regras muito
precisas de como esse sepultamento deveria acontecer. Dentes removidos também
eram sepultados com os restos mortais de outra pessoa.
Crânio com dentes removidos
O terceiro
padrão de sepultamento, datado entre 8.600 e 8.200 anos atrás, envolve nove
ossadas dispostas completamente desarticuladas em covas circulares (entre 30 e
40 centímetros de diâmetro) e apenas 20 centímetros de profundidade. Cada cova,
preenchida por inteiro, abrigava um único indivíduo. No caso dos adultos, os
ossos mais longos em geral eram quebrados após a morte e só assim cabiam nas
exíguas tumbas.
Mesmo em meio
a tantos desmembramentos, não há indícios de que a violência em vida fosse uma
prática corrente. “Nós lemos os ossos, tudo fica registrado neles”, conta
Strauss. E eles guardam níveis muito baixos de fraturas recompostas, que
indicariam terem acontecido em vida. De maneira geral, Strauss considera que os
achados representam uma mudança no paradigma de como se vê a habitação humana
por ali nesse período, o início do Holoceno. “Por muito tempo a grande questão
era se a Luzia era a mais antiga da América e se era parecida com
africanos”, afirma, referindo-se ao crânio de 11 mil anos descrito por Neves e
que redefiniu como se deveria pensar a ocupação humana dessa região. “Agora
sabemos que não houve um povo de Luzia em Lagoa Santa; foi uma sucessão de povos
que habitaram a região com transformações culturais muito claras.” Afinal,
trata-se de um período de cerca de 5 mil anos, tempo suficiente para povoamentos
muito diversos, mesmo que fossem até certo ponto descendentes uns dos
outros.
Estudos com
DNA devem em breve começar a render resultados e trazer algumas respostas sobre
como esses grupos se sucederam e qual o parentesco entre eles. “A morfologia
craniana mostra que eles tinham a mesma ‘arquitetura’ geral”, conta Walter
Neves. Há uma variação contínua nesse grande grupo que ele define como
paleoamericano. De acordo com sua teoria, de que duas migrações distintas deram
origem aos habitantes da América, as primeiras pessoas com características
asiáticas teriam chegado por ali há cerca de 7 mil anos – e não há resquícios
humanos em Lagoa Santa datados entre 7 mil e 2 mil anos atrás. Mesmo assim, o
que há de indícios de lá e de outros lugares aos poucos vem refinando a
hipótese. “Eu achava que a segunda leva migratória teria substituído o povo de
Luzia”, admite. “Mas hoje temos evidências muito fortes de que aquela morfologia
sobreviveu praticamente intacta até o século XIX.” É o caso, por exemplo, dos
índios Botocudos (que foram dizimados no período colonial), de acordo com
crânios armazenados no Museu Nacional do Rio de Janeiro, como defendem Strauss,
Neves e colegas em artigo publicado em 2015 na revista American Journal of
Physical Anthropology.
Anzóis feitos de osso
Práticas
de vida
Desde o início do doutorado, em 2011, Strauss coordena os trabalhos na Lapa do Santo, com financiamento alemão. A riqueza arqueológica garante o interesse da colaboração pelos dois países, que inclui parcerias para estudos genéticos. A contrapartida brasileira no projeto é Walter Neves, e seu Laboratório de Estudos Evolutivos e Ecológicos Humanos (LEEEH) recebe todo o material coletado nas expedições. Nos últimos anos, não foram encontrados vestígios de cerâmica no local, um indício forte de que eram populações de caçadores-coletores que moravam ali uma parte do tempo, e não agricultores, corroborando o que já se acreditava. Os animais caçados eram peixes, lagartos, roedores, tatus, porcos selvagens e pequenos cervos, todos carregados inteiros para a caverna. Nada de bichos um pouco maiores, como antas, e dos imensos mamíferos representantes da megafauna, que se acreditava associada aos humanos de Lagoa Santa desde que Peter Lund encontrou essa associação em outra caverna da região, entre 1835 e 1844. Nem sempre, pelo jeito.
Desde o início do doutorado, em 2011, Strauss coordena os trabalhos na Lapa do Santo, com financiamento alemão. A riqueza arqueológica garante o interesse da colaboração pelos dois países, que inclui parcerias para estudos genéticos. A contrapartida brasileira no projeto é Walter Neves, e seu Laboratório de Estudos Evolutivos e Ecológicos Humanos (LEEEH) recebe todo o material coletado nas expedições. Nos últimos anos, não foram encontrados vestígios de cerâmica no local, um indício forte de que eram populações de caçadores-coletores que moravam ali uma parte do tempo, e não agricultores, corroborando o que já se acreditava. Os animais caçados eram peixes, lagartos, roedores, tatus, porcos selvagens e pequenos cervos, todos carregados inteiros para a caverna. Nada de bichos um pouco maiores, como antas, e dos imensos mamíferos representantes da megafauna, que se acreditava associada aos humanos de Lagoa Santa desde que Peter Lund encontrou essa associação em outra caverna da região, entre 1835 e 1844. Nem sempre, pelo jeito.
“Eles comiam
até mocó”, exclama Neves, referindo-se ao roedor pouco maior do que um
porquinho-da-índia. Para ele, não há nada mais precário do que incluir esses
animais na dieta, indicação de que os grupos de Lagoa Santa não tinham melhores
fontes de proteína à disposição e viviam numa situação limite para garantir a
subsistência. É uma teoria apenas, mas a escassez de pertences nos sepultamentos
pode ser sinal de que não havia espaço para desperdício, e as ferramentas – como
anzóis, de que só foram encontrados sete na Lapa do Santo – eram necessárias aos
vivos. “O tempo deles era dedicado a viabilizar a existência do grupo”, especula
Neves. E eram grandes grupos, estima ele.
Rodrigo Elias de Oliveira trabalha na exumação de crânio
decapitado…
O modo de
vida pode estar agora mais definido, mas a conclusão também propõe um enigma:
análises químicas que refletem a dieta por meio da quantificação de isótopos de
carbono e nitrogênio, feitas pelo biólogo brasileiro Tiago Hermenegildo como
parte do doutorado na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, mostraram que os
habitantes da região comiam muitos vegetais e complementavam a dieta com caça.
Esse alto grau de consumo de vegetais é inesperado para caçadores-coletores,
sobretudo com a dieta rica em carboidratos indicada pelas frequentes cáries nos
dentes encontrados.
O dentista
Rodrigo Elias de Oliveira, pesquisador do grupo de Neves, é coautor de um artigo
liderado por Pedro Tótora da Glória, também do LEEEH, sobre a saúde dental na
Lapa do Santo, a ser publicado na revista Annals of the Brazilian Academy of
Sciences. Parceiro de Strauss desde 2006 nas escavações da Lapa do Santo,
Elias explica as discrepâncias entre a incidência de cáries que tem observado e
a documentada para outras populações de caçadores-coletores por ser Lagoa Santa
uma região de clima tropical, com vegetação de Cerrado. “Os outros exemplos que
temos são de climas temperados”, compara. “Aqui os alimentos naturalmente
disponíveis – muitas frutas e tubérculos – podem gerar mais cáries.” Ele aposta
no pequi e no jatobá, muito usados até hoje na região, como uma fonte alimentar
já naquele tempo. São frutos ricos em carboidratos e fragmentos carbonizados
foram encontrados nos sítios de Lagoa Santa.
Elias, que
fez doutorado com Walter Neves e agora realiza estágio de pós-doutorado em
periodontia na Faculdade de Odontologia da USP, traz ao projeto um detalhamento
no estudo dos dentes, cujo material mais resistente do que os ossos os torna
abundantes em sítios arqueológicos. “O dente é como uma cápsula, acaba virando
nosso cofrinho”, afirma. Ele explica que os ossos se renovam constantemente, a
ponto de se dizer que a cada 10 anos uma pessoa substitui seu esqueleto por
inteiro. Os dentes de um adulto, no entanto, são testemunho do período da vida
em que se formam os dentes permanentes. Ele espera que estudos com isótopos, em
andamento agora em colaboração com Hermenegildo, ajudem a aprofundar aspectos da
dieta até o detalhe de que tipos de planta comiam, de migrações ao longo da
vida, de quanto tempo as crianças eram alimentadas com leite materno. O dentista
adianta que isótopos de estrôncio, assim como o formato do fêmur, que responde à
ação da musculatura, indicam que as pessoas encontradas na Lapa do Santo eram
nativas de Lagoa Santa. “Eles tinham mobilidade, mas não eram errantes.”
… e analisa ossadas no LEEEH
Chão
de cinzas
A inferência de intensa ocupação humana vem da confirmação de que muitas fogueiras foram acesas na Lapa do Santo. “Eles usavam fogo o tempo todo, sabiam o que estavam fazendo”, afirma a arqueóloga Ximena Villagran, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP. Ela fez análises ao microscópio do sedimento da caverna e mostrou uma grande quantidade de cinzas até uma profundidade de 1 metro, conforme mostra em artigo publicado em julho no site da revista Journal of Archaeological Science. Mais do que controlar o fogo, os habitantes da região aparentemente planejavam seu uso, armazenando madeira em processo de decomposição. Esse nível de detalhe é possível graças a análises de petrologia orgânica, uma técnica que recentemente passou a ser usada em arqueologia, à qual Ximena teve acesso por meio da parceria com o geólogo francês Bertrand Ligouis durante estágio de pós-doutorado na Universidade de Tübingen, onde ele dirige o Laboratório de Petrologia Orgânica Aplicada.
A inferência de intensa ocupação humana vem da confirmação de que muitas fogueiras foram acesas na Lapa do Santo. “Eles usavam fogo o tempo todo, sabiam o que estavam fazendo”, afirma a arqueóloga Ximena Villagran, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP. Ela fez análises ao microscópio do sedimento da caverna e mostrou uma grande quantidade de cinzas até uma profundidade de 1 metro, conforme mostra em artigo publicado em julho no site da revista Journal of Archaeological Science. Mais do que controlar o fogo, os habitantes da região aparentemente planejavam seu uso, armazenando madeira em processo de decomposição. Esse nível de detalhe é possível graças a análises de petrologia orgânica, uma técnica que recentemente passou a ser usada em arqueologia, à qual Ximena teve acesso por meio da parceria com o geólogo francês Bertrand Ligouis durante estágio de pós-doutorado na Universidade de Tübingen, onde ele dirige o Laboratório de Petrologia Orgânica Aplicada.
Outra técnica
de ponta usada por ela foi a Espectrometria de Infravermelho por Transformada de
Fourier (FTIR), normalmente usada para analisar sedimento solto. Ximena dispôs
suas amostras em lâminas de vidro, de maneira que conseguia investigar com
precisão por que o sedimento é composto por agregados de vários tons de amarelo,
laranja e vermelho. Ao caracterizar o sedimento dentro da caverna e em torno
dela, ficou claro que a produção de cinzas acontecia dentro do abrigo. Ela
também identificou fragmentos de cupinzeiros, indicando que por algum motivo o
material era trazido para dentro da caverna. “Talvez eles os usassem como pedras
quentes para cozinhar ou como forno do lado de fora, como os xavantes usam para
fazer seu bolo de milho”, especula. Depois da revelação na escala microscópica,
passou a dar-se conta de que os campos de Lagoa Santa são repletos de
cupinzeiros.
Um enigma
surgiu ao verificar que a coloração vermelho-escura que observava em certas
partes do sedimento teria exigido altas temperaturas, mais de 600 graus Celsius
(°C). Em experimentos nos quais acendia fogueiras e inseria nas chamas um
termômetro de cabo bem longo, Ximena verificou que o solo embaixo do fogo não
era sujeito a tão altas temperaturas. A explicação literalmente lhe caiu na
cabeça na segunda vez em que visitou o sítio arqueológico. “Percebi que uma
chuva de sedimento cai do paredão de rocha acima da entrada da caverna”, conta.
Se caíssem diretamente sobre uma fogueira, essas partículas encontrariam
temperaturas entre 800 °C e 1000 °C.
André Strauss em sua mesa de trabalho na Lapa do
Santo
Ao analisar a
microestrutura do sedimento em torno dos sepultamentos, Ximena percebeu uma
continuidade perturbada em certos pontos, como se alguém tivesse cavado para
fazer uma cova. Ela pretende continuar as análises para detalhar como os
sepultamentos eram feitos. Strauss também quer saber se as práticas funerárias
sofisticadas só existiam na Lapa do Santo: ele aposta que era uma cultura mais
disseminada. “Fui olhar as publicações passadas e os sinais estão lá, faltou
analisar dessa maneira”, afirma o arqueólogo, que quer ampliar os estudos para
outras regiões do país.
Uma limitação
é que o que já foi escavado não pode ser recuperado, a não ser que a
documentação tenha sido extremamente meticulosa. E até recentemente os registros
eram falhos, até por falta de recursos. “Fazer uma escavação é como ler um livro
e queimar as páginas”, compara Strauss, que se especializou em documentação
arqueológica. Ele conta que retirar um sepultamento leva de 20 a 25 dias, nos
quais o sedimento é retirado aos poucos enquanto se gera um modelo
tridimensional dos achados e registra-se tudo com fotos e vídeo. As cadernetas
de campo dos arqueólogos, segundo ele, devem trazer as informações e observações
detalhadamente e serem públicas: nada de diário pessoal. “Essa percepção ainda
está crescendo na arqueologia brasileira.”
De 2011 para
cá mais 11 sepultamentos foram exumados, corroborando os padrões descritos
anteriormente, e estão em processo de estudo. As escavações continuam na Lapa do
Santo e prometem revelar ainda outras camadas de tempo e costumes. De acordo com
o arqueólogo norte-americano Kurt Rademaker, professor na Universidade do Norte
de Illinois e especialista em caçadores-coletores, o trabalho em Lagoa Santa
está se somando ao que é feito na região dos Andes em revelar uma grande
diversidade cultural. “Strauss e sua equipe interdisciplinar estão fazendo
ciência arqueológica de ponta e enriquecendo nosso conhecimento sobre a
aparência física, a ancestralidade e os modos de vida dos sul-americanos
antigos, em particular suas interessantíssimas práticas rituais”, afirma. É
impossível saber o que se passava na cabeça desses antigos habitantes do que
hoje é Minas Gerais, mas a equipe envolvida nos estudos está empenhada em
construir um retrato aproximado.
Projeto
Origens e microevolução do homem na América: Uma abordagem paleoantropológica (III) (nº 2004/01321-6); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Temático; Pesquisador responsável Walter Alves Neves (IB-USP); Investimento R$ 2.032.930,19.
Origens e microevolução do homem na América: Uma abordagem paleoantropológica (III) (nº 2004/01321-6); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Temático; Pesquisador responsável Walter Alves Neves (IB-USP); Investimento R$ 2.032.930,19.
Artigos
científicos
STRAUSS, A. et al. Early Holocene funerary complexity in South America: The archaeological record of Lapa do Santo (east-central Brazil). Antiquity. No prelo.
DA-GLORIA, P. J. T. et al. Dental caries at Lapa do Santo, central-eastern Brazil: An Early Holocene archaeological site. Annals of the Brazilian Academy of Sciences. No prelo.
STRAUSS, A. et al. Os padrões de sepultamento do sítio arqueológico Lapa do Santo (Holoceno Inicial, Brasil). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas. v. 11, n. 1, p. 243-76. jan.-abr. 2016.
STRAUSS, A. et al. The oldest case of decapitation in the New World (Lapa do Santo, east-central Brazil). PLoS One. set. 2015.
STRAUSS, A. et al. The cranial morphology of the Botocudo indians, Brazil. American Journal of Physical Anthropology. v. 157, n. 2, p. 202-16. jun. 2015.
VILLAGRAN, X. S. et al. Buried in ashes: Site formation processes at Lapa do Santo rockshelter, east-central Brazil. Journal of Archaelogical Science. On-line. 26 jul. 2016.
STRAUSS, A. et al. Early Holocene funerary complexity in South America: The archaeological record of Lapa do Santo (east-central Brazil). Antiquity. No prelo.
DA-GLORIA, P. J. T. et al. Dental caries at Lapa do Santo, central-eastern Brazil: An Early Holocene archaeological site. Annals of the Brazilian Academy of Sciences. No prelo.
STRAUSS, A. et al. Os padrões de sepultamento do sítio arqueológico Lapa do Santo (Holoceno Inicial, Brasil). Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas. v. 11, n. 1, p. 243-76. jan.-abr. 2016.
STRAUSS, A. et al. The oldest case of decapitation in the New World (Lapa do Santo, east-central Brazil). PLoS One. set. 2015.
STRAUSS, A. et al. The cranial morphology of the Botocudo indians, Brazil. American Journal of Physical Anthropology. v. 157, n. 2, p. 202-16. jun. 2015.
VILLAGRAN, X. S. et al. Buried in ashes: Site formation processes at Lapa do Santo rockshelter, east-central Brazil. Journal of Archaelogical Science. On-line. 26 jul. 2016.
Excelente para pesquisa
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