Quem são os autores da nova literatura brasileira
HypenessEm um momento tão conturbado e difícil como o que o Brasil atravessa, os escritores e escritoras se fazem ainda mais necessários. Para nossa sorte, uma forte geração de autores vêm moldando a nova literatura brasileira e, com isso, refletindo uma série de igualmente novas realidades do próprio país, mais urbanizado, desenvolvido, porém ainda repleto de problemas sociais e políticos que já assolavam a realidade dos grandes do passado.
Se antigamente a literatura tinha como função primordial e maior inventar e, ao mesmo tempo, explicar o Brasil em suas infinitas facetas, hoje a mira da pena do escritor parece estar mais voltada para si – e, quem sabe, ao falar de si, acabar falando também de um novo país. Memórias triviais amplificadas, como épicos do banal, ampliando também a voz dos que não tem voz, a dor e a delícia do que há de estranho e específico em cada individualidade e contexto. Uma turma mais ensimesmada e menos politizada (com evidentes exceções) ao menos no sentido habitual do termo – e se o artista é sempre o termômetro de seu lugar e época, o que isso quer dizer sobre o duro Brasil de hoje?
Como sabemos, toda seleção é injusta, e comete gafes ou ausências imperdoáveis. Essa, portanto, é uma amostra da fina literatura produzida hoje por aqui – a pouca presença de autores do nordeste, por exemplo, é crime inafiançável, sinal dos tempos, da dificuldade de mudar o eixo de lugar. Entre romancistas, poetas, cronistas, toda sorte de escrita que aponta para a identidade nacional, ao mesmo tempo que expande nossas noções ao notarmos um pouco do que pensam, sentem e, principalmente, escrevem esses autores.
Angélica Freitas
Com dois livros lançados, a poeta gaúcha Angélica Freitas se tornou a mais comemorada poeta dessa nova geração. Autora de Rilke Shake (2007) e do celebrado Um útero é do tamanho de um punho (2013, finalista do Prêmio Portugal Telecom), Angélica é co-editora da revista de poesia Modo de Usar & Co., e já foi publicada em diversas antologias espalhadas pelo mundo. Dona de uma poética feminina, urbana, bem humorada e sagaz, Angélica é hoje parte de uma série de poetas mulheres que se destacam com a mais interessante poesia produzida por aqui.
Ferréz
Autor, rapper, crítico e ativista, Ferréz é autor de nove livros, entre eles Os ricos também morrem (2015), Capão Pecado (2000), Manual prático do ódio (2003), Deus foi almoçar (2011) e Ninguém é inocente em São Paulo (2006). Um dos mais prolíficos autores contemporâneos, Ferréz escreve novelas, contos, poemas e letras como parte do que ficou conhecido como Literatura Periférica, advinda justamente das periferias. Violenta, imagética, oral e real, sua literatura à margem se transforma em universal ao ser feita a partir e para o jovem da favela.
Bruna Beber
Bruna é carioca de São João de Meriti e, hoje vivendo em São Paulo, a nostalgia de sua infância e suas vivências à distância da capital, formando sua personalidade poética, são elementos fortes de sua poesia. Dona de um humor debochado e, ao mesmo tempo, de um olhar lírico e melancólico, Bruna foi vencedora do prêmio Quem Acontece em 2008, na categoria Revelação Literária. É autora dos livros A fila sem fim dos demônios descontentes (2008), Balés (2009), Rapapés & Apupos (2010) e Rua da Padaria (2013).
Pedro Rocha
O poeta carioca Pedro Rocha abraça o fazer poético como ofício em todas as suas etapas – da escrita propriamente, passando pela publicação, até chegar ao ato de falar o poema. Um dos fundadores do seminal evento de experimentação artística CEP 20.000, no Rio de Janeiro, Pedro é um poeta da fala. Autor dos livros Onze (2002), Chão Inquieto (2010) e Experiência do Calor (2015), Pedro é editor dos selos Lábia Gentil, especializado em poesia, e Cartonera Caraatapa, e já participou dos principais festivais de poesia da América Latina.
Conceição Evaristo
conceic%cc%a7a%cc%83oedit
Ainda que com mais idade, Conceição Evaristo começou a publicar nos anos 1990, e lançou seus primeiros livros já nos anos 2000, sendo, portanto, jovem enquanto autora. Autora dos livros Poncía vivêncio (2003), Histórias de leves enganos (2016), Becos da memória (2006), Poemas da recordação e outros movimentos (2008), entre outros, em sua literatura a crítica social se mistura com a ancestralidade e a religião, sob a marca de uma escrita feminina e negra. Seu livro Olhos d’água (2015) foi vencedor do Prêmio Jabuti na categoria contos.
Ana Martins Marques
anamedit
A poeta mineira Ana Martins Marques é autora dos livros A vida submarina (2009), Da arte das armadilhas (2011) e O livro das semelhanças (2015). Vencedora do prêmio Biblioteca Nacional e finalista do prêmio Portugal Telecom, Ana se vale de temas cotidianos e de uma poética informal para trazer o leitor pela mão por seus poemas, como cúmplices – para só então empurra-lo por sua profundidade. Ana ganhou também o prêmio Alphonsus de Guimaraens, e trabalha como revisora e redatora.
Michel Laub
Editor e cronista gaúcho, Michel Laub trabalha com autoficção e a herança judaica em seu mais conhecido livro, Diario da queda (2011). Seu primeiro romance, Música Anterior (2001) recebeu o prêmio Érico Veríssimo. É autor também de A maçã envenenada (2013), entre outros. Sempre rodeando temas traumáticos em seus personagens, suas narrativas trabalham com o confessional e o reflexivo, como se sempre houvesse um segredo profundo a ser revelado, algo que não é dito mas que conduz toda a história.
Ana Paula Maia
Cruzando influências entre Dostoievsky, Schopenhauer, Quentin Tarantino, Nelson Rodrigues, cultura pop, Platão e cinema americano em geral, Ana Paula Maia lida com o ser humano comum em sua literatura, e a dor da invisibilidade diante da alienação do trabalho e do cotidiano. É autora dos livros De gados e homens (2013), Carvão animal (2011), Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos (2009), A guerra dos bastardos (2007) e O habitante das falhas subterrâneas (2003) – muitos traduzidos para diversas línguas.
Tatiana Salem Levy
Nascida durante o exílio em Portugal de sua família da ditadura militar brasileira, seu primeiro romance, A chave de casa (2007) foi primeiramente escrito como sua tese de doutorado em literatura. Trabalhando com elementos profundamente autobiográficos, atravessados por erotismo e a questão da diáspora judaica, A Chave da Casa foi publicado primeiramente em Portugal. Seu segundo romance, Dois Rios, foi publicado em 2013. Paraíso (2014) é seu terceiro livro.
Daniel Galera
Um dos fundadores da editora Livros do Mal, Daniel Galera vem se destacando como um dos mais relevantes autores contemporâneos. Seu romance Barba ensopada de sangue (2012) tornou-se sucesso de crítica e público rapidamente, ficando em 3º lugar no prêmio Jabuti e vencendo o prêmio São Paulo de Literatura. É também autor dos livros Cordilheira (2008), Mãos de cavalo (2006) e Até o dia em que o cão morreu (2003). Bastante traduzido fora do Brasil, Galera é também autor da HQ Cachalote (2010), em parceria com Rafael Coutinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário