quinta-feira, 22 de agosto de 2013

FOLHAS DE MINAS GERAIS.

FOLHAS DE MINAS GERAIS
Padre do demônio e a primeira tipografia
Por Jairo Faria Mendes em 07/09/2004 na edição 293
"Padre, tu és o demônio!", disse o bispo Cypriano ao padre José Joaquim Viegas de Menezes, que tomou um susto. Mas era um elogio. O bispo completou: "Não sabe que demônio não significa somente espírito mau, e que também quer dizer astuto, sagaz, inteligente!"
O bispo, o governador-geral e muitos outros eram admiradores do padre responsável pela primeira impressão oficial nas Minas (1807), pela primeira tipografia construída no país (1821) e a criação do primeiro jornal da província, O Compilador Mineiro, em 1823.
Padre Viegas era um homem brilhante. Apesar da saúde muito frágil, realizou grandes feitos como intelectual, artista plástico e, principalmente, como amante das artes gráficas. Viegas está quase esquecido e sabe-se muito pouco sobre ele. No entanto, um distrito de Mariana, nas Minas Gerais, tem seu nome, apesar da única relação do padre com a localidade é ter estudado lá na adolescência. O poeta e líder da Inconfidência Cláudio Manoel nasceu no distrito, mas preferiu-se homenagear o precursor da imprensa mineira.
O que se conhece do padre deve-se a uma carta enviada, em 1851, por alguém que apenas registrou suas iniciais, A.M., e que se dizia amigo de Viegas. A correspondência foi encaminhada ao redator do Correio Official de Minas, com data de 3 de janeiro de 1852, por José Rodrigo Duarte. No entanto, não se sabe o porquê, a correspondência só foi publicada em 1859. A pessoa que encaminhou a carta era muito influente, e mostrava-se preocupada com o registro da memória de Viegas. Acredito que tenha sido José Rodrigo Lima Duarte, redator de periódicos em Juiz de Fora, era médico e foi eleito deputado em sete legislaturas, e uma vez senador. Também foi ministro da Marinha, e no final da vida recebeu o título de visconde Lima Duarte. Uma cidade mineira, próxima a Juiz de Fora, foi batizada com seu nome.
Na carta é possível observar uma grande admiração ao padre, e a intenção de homenageá-lo. O autor da correspondência também deixa claro que não tem todas as informações necessárias para traçar a biografia de Viegas: "Me faltam dados para bem desempenhá-la", diz. Ele começa descrevendo a impressão calcográfica (utilizando chapas fixas de cobre) feita pelo padre a pedido do governador em 1807. E descreve um diálogo entre Viegas e o governador, sobre o qual faz uma observação: "Por muitas vezes ouvimos o finado (padre Viegas) repetir esta conversação que tivera com o general". O diálogo mostra uma relação de proximidade entre ambos, e termina com uma frase bem em que o capitão-general diz que o padre não devia se preocupar com a proibição a atividade de impressão. "Oh! Se é só isso, não se aflija, tomo sobre mim toda a responsabilidade: mãos a obra, meu Padre".
Ao lado do poder
Depois a carta traz as informações conhecidas sobre o padre, desde seu nascimento, quando ele foi abandonado pela mãe na porta de uma casa em Vila Rica. Essas informações depois serão reproduzidas por Xavier da Veiga, na monografia A imprensa em Minas Gerais (1807-1897), publicada em 1898 na Revista do Arquivo Público Mineiro (ver artigo "O precursor dos estudos sobre jornalismo em Minas").
A correspondência descreve Viegas como uma pessoa tranqüila, piedosa e humilde. Já na infância preferia os livros e o desenho (para o qual tinha grande habilidade) às brincadeiras com as outras crianças. Mas alguns detalhes da história do padre deixam claro que ele era muito sociável, inquieto intelectualmente e ousado. Respondeu a processos civis, que o biógrafo diz terem sido injustos: "Foram intentados por parte ou a instigações de indivíduos a quem jamais ofendera, antes obsequiara sempre". Os motivos apontados: "Pretendidas usurpações de direitos paroquiais, já por infundadas pretensões de liberdade de escravos seus". Isso mostra um lado negativo de Viegas, ser proprietário de escravos. Mas, claro, tem-se que pensar em Viegas como um homem de seu tempo.
Alguns aspectos da vida do padre mostram que ele, apesar de não ter uma militância política, era conservador. Sempre esteve ao lado do poder, amigo do governador-general, no período colonial, que dá depoimento elogioso a Viegas. Mas a maior prova de sua tendência conservadora é sua participação na revolta, em 1833, nas Minas, de caráter restaurador, ou seja, de apoio ao retorno de D. Pedro I.
No Arco do Cego
O biógrafo diz que Viegas não teve qualquer envolvimento. Mas, se contradiz ao contar que, ao se restaurar a legalidade, o padre fugiu de Vila Rica disfarçado, e depois foi condenado a seis dias de prisão. O padre recorreu. Segundo a correspondência ele teria dito: "Nem a seis horas, nem a seis segundos mesmo me sujeitarei, sem primeiro esgotar todos os recursos que estiverem a meu alcance para mostrar-me tal como sou, isto é, inocente". Num segundo julgamento, foi absolvido. No entanto, o padre parecia bem mais preocupado com seu trabalho eclesial, artístico e intelectual, do que em participar da vida política. Em Portugal, onde morou provavelmente de 1797 a 1802, teve uma convivência fraterna com frei Veloso, que dirigia a Oficina do Arco do Cego, em Lisboa.
Frei Veloso é uma das principais personalidades da história da imprensa luso-brasileira, e era muito amigo do padre Viegas. Com o frei, Viegas aprendeu muito sobre a arte da impressão, e até fez a tradução, do francês para o português, do importante Tratado da gravura a água forte, e a buril, em maneira negra com o modo de construir as prensas modernas, e de imprimir em talho doce, que foi impresso no Arco do Cego.
Os brasileiros que iam estudar em Portugal, e formavam um grupo de intelectuais, tinham como ponto de encontro a Oficina do Arco do Cego. Por isso, certamente o padre Viegas teve oportunidade de conviver com pessoas como Hipólito da Costa, o criador do nosso primeiro jornal, o Correio Braziliense. Em Vila Rica, a casa de Viegas sempre vivia cheia. A correspondência diz que ele gostava muito de receber, principalmente os franceses. Um de seus hóspedes foi um artista plástico francês chamado Palière, que o autor da carta chama de "mestre da casa real", e que se entusiasmou com as pinturas do padre.
À espera do pesquisador
O relato deixa claro que Viegas era muito querido. Quando foi absolvido, em 1833, houve festa em Vila Rica. E, em 1º de julho de 1841, quando "essa alma benfazeja voou tranqüila à mansão dos justos", um grande número de pessoas se comoveu.
Mais informações sobre o padre Viegas podem ser encontradas em outros textos de minha autoria, como "O precursor dos estudos sobre jornalismo em Minas" [ver remissão abaixo] e "O precursor da imprensa mineira" [apresentado no 2º Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho, encontrado em (www.jornalismo.ufsc.br/redealcar/)].
Recentemente, fiz uma visita a Mariana, nas Minas Gerais, e encontrei alguns documentos manuscritos (e por isso de difícil leitura) sobre o padre Viegas, que certamente trariam mais dados sobre sua contribuição à imprensa e ao jornalismo brasileiro. Será trabalho para algum pesquisador persistente e interessado na história de nossa imprensa explorar esse material.
Disponível em
Acesso em 22 de agosto de 2013

e� N g s �& m! a escolheu Xavier da Veiga, por quem demonstrou grande admiração.

"Proeza extraordinária"
A monografia de Xavier da Veiga, publicada na Revista do Arquivo Publico, nº 3, de 1898, com o título "A imprensa em Minas Gerais (1807-1897)", faz nascer os estudos sobre jornalismo no estado. Com 80 páginas, o texto faz um relato do primeiro século da imprensa nas Minas, e traz um inventário com as publicações que surgiram nestes 100 anos.
O estudo, até hoje, é utilizado por historiadores e pesquisadores do jornalismo. Ninguém conseguiu superar Xavier da Veiga, sua monografia continua a principal referência sobre a história da imprensa mineira. Surgiram registros e análises de fatos isolados, de jornalistas ou da história do jornalismo em cidades das Minas; mas faltam publicações que tenham um olhar "macro" sobre a memória da imprensa no estado.
Xavier da Veiga começa fazendo um rápido histórico, que passa pelo invento de Gutenberg; a oficina de Antônio Isidoro da Fonseca, no Rio de Janeiro, fechada em 1747; e os primeiros jornais brasileiros. No entanto, gasta apenas cinco páginas para essa introdução, e entra no que lhe interessava, a memória da imprensa nas Minas.
Ele descreve com detalhes a primeira impressão feita nas Minas, em 1807, pelo padre José Joaquim Viegas de Menezes. O poeta e cronista Diogo Pereira Vasconcelos escreveu um canto panegírico (um poema) homenageando o governador da capitania, Pedro Maria Xavier de Atayde. Apesar das atividades gráficas serem proibidas na colônia, o governador quis ver o texto impresso, e procurou o padre Viegas, o único que poderia atender a seu desejo.
Depois de três meses de trabalho, o padre imprimiu um poema, utilizando uma técnica chamada calcografia, que consiste no uso de chapas fixas de bronze. Esse é um dos grandes momentos da imprensa brasileira. Ele é descrito por Sodré (1999) como "proeza extraordinária para a colônia" (p. 34).
Um erro repetido
Na monografia também é feita rápida biografia do herói da imprensa mineira, o padre Viegas. Ele, além da impressão calcográfica de 1807, foi responsável pela primeira tipografia construída no país (trabalho iniciado em 1820). A monografia descreve bem isso.
O português Manoel José Barbosa Pimenta e Sal, residente em Vila Rica (que mais tarde viraria Ouro Preto), costumava folhear o "Diccionario de Sciencias e Artes", em francês [provavelmente o Dictionnaire des Sciences, des Arts et de Métiers (1751-1777), de Diderot], dando atenção ao trecho que descrevia uma tipografia. Um acaso feliz aproximou o português do padre Viegas, que traduziu a parte referente à tipografia, e explicou como ela funcionava. Depois, os dois resolveram juntos fundir os tipos e construir um prelo. Nessa tipografia seriam impressos muitos jornais. Ela, certamente, foi decisiva no nascimento e na evolução do jornalismo nas Minas.
A monografia ignora um fato importante da biografia do padre Viegas. Foi ele também o diretor do primeiro jornal do Estado, o Compilador Mineiro.
Para falar do padre, é fácil identificar (embora não citado na monografia) que ele utilizou como principal fonte um trabalho biográfico publicado no Correio Official de Minas, de 10 a 13 de janeiro de 1859. Esse texto, apesar de bem anterior ao de Xavier da Veiga, não pode ser classificado como um estudo sobre a imprensa: é uma biografia, escrita no estilo do jornalismo da época, rebuscada e com tom apologista, mas bem redigida.
No entanto, Xavier da Veiga comete um erro, que muitos anos depois seria repetido por Nelson Werneck Sodré, em História da imprensa no Brasil. Ele diz que o primeiro jornal das Minas foi a Abelha do Itaculumy, criado em 1824. No entanto, a primazia é do Compilador Mineiro, fundado um ano antes.
Inventário da imprensa
Ao citar os primeiros jornais da província, Abelha do Itaculumy (1824), o Compilador Mineiro (de 1823, que a monografia diz ser de 1824, e sobre o qual o autor mostra ter muitas dúvidas a respeito do local da impressão e de quem o dirigia), ganha destaque o Universal. É fácil entender a ênfase dada ao Universal, o primeiro jornal com expressão na província. Foi criado pelo polêmico político Bernardo Vasconcelos, que o dirigiu até 1833. Depois o jornal mudou radicalmente de posição política, e, em 1842, tomou uma das decisões mais ousadas da história de nossa imprensa. Seu diretor, José Pedro Dias de Carvalho, derreteu os tipos do jornal para fabricar balas para a revolução liberal que estourava na província.
Em seguida, vêm a descrição das primeiras localidades mineiras com jornais. Como ele mostra, os jornais começaram em Ouro Preto, em 1823. A segunda localidade foi São João Del Rei, que em 20 de novembro de 1827 ganhou o Astro de Minas, considerado "brilhante" por Xavier da Veiga. Depois, o Arraial do Tijuco (hoje cidade de Diamantina) ganhou o Echo do Serro, em 1828.
Em 1830, três localidades passaram a ter jornais: Mariana (Estrella Mariannense), Serro (Sentinela do Serro, de Teófilo Otoni, seguindo a linha editorial da Sentinela da Liberdade, de Cipriano Barata) e Pouso Alegre (Pregoeiro Constitucional). Outros locais que ganharam publicação: Itambé do Serro (7º lugar), Campanha (8º lugar), Sabará (9º lugar) e Caeté (10º lugar).
A parte mais importante do trabalho de Xavier da Veiga vem depois, o inventário da imprensa nos seus primeiros 100 anos. Em 34 páginas, ele lista as centenas de publicações criadas nas Minas, no período, em 87 localidades.
A grande obra
Pelo inventário, é clara a grande importância de Ouro Preto neste primeiro século de jornalismo. São listados 163 periódicos na cidade. Outros municípios com bom número de publicações: São João Del Rei (41), Diamantina (45), Campanha (33), Juiz de Fora (55) e Uberaba (57). Belo Horizonte, recém-inaugurada (em 12 de dezembro de 1897), já tinha cinco periódicos listados por Xavier da Veiga.
O inventário mostra que nas Minas algumas regiões povoadas tardiamente estavam tendo uma imprensa muito forte, refletindo as grandes mudanças na região. Com a decadência da exploração do ouro e diamantes, gradativamente, localidades que cresceram com a mineração (Ouro Preto, São João Del Rei, Sabará, Mariana, Diamantina etc.) foram perdendo importância, e outras ganharam grande impulso (principalmente na Zona da Mata e no Sul das Minas).
No fim da monografia, Xavier da Veiga faz um relato da imprensa nas Minas em 1897. Segundo ele, dos 123 municípios que o estado tinha na época, 69 tinham periódicos. Ouro Preto continuava com posição de destaque – seis publicações, duas delas de grande importância: o jornal oficial Minas Gerais e a Revista do Arquivo Público Mineiro. O Minas Gerais se destaca por ser a única publicação importante, do século 19, que sobrevive até os dias de hoje. Belo Horizonte, que acabava de ser inaugurada (com o nome de Cidade de Minas), contava com quatro publicações: A Capital, O Bello Horizonte (o primeiro jornal da cidade), Tiradentes e O Bohemio.
A extensa Efemérides mineiras é a grande obra de Xavier da Veiga. Ele gastou quase 18 anos de trabalho árduo para produzi-la. Em 1897, lançou-a pela Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, em quatro volumes. A Fundação João Pinheiro lançou em 1998 uma reedição da obra, com dois volumes, que juntos têm 1.115 páginas. No livro, Xavier da Veiga faz uma cronologia detalhada da história mineira, mas um pouco confusa pela forma com que o autor organiza as informações.
As Efemeridades foram financiadas pelo governo de Minas Gerais. Já nos termos da lei de criação do Arquivo Público Mineiro, estava prevista a produção de "efemérides sociais e políticas". O APM seguia a linha do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, que promoveu a publicação de edições históricas.
Lima conta que uma vez alguém procurou Xavier da Veiga querendo informações para escrever sua biografia. A reação de Xavier da Veiga foi entregar os volumes das Efemérides mineiras. "(...) como quem disse: Eis-me nesse monumento pátrio." (Lima, 1991, p. 39).
Disponível em:

Acesso em 22 de agosto de 2013.

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