JORNAIS DO INTERIOR
Marcas da
imprensa oitocentista
Por Jairo Faria Mendes em 20/07/2004 na edição 286
Ainda
são encontrados traços da imprensa do século 19 no jornalismo brasileiro. Eles
são vistos, principalmente, nos jornais de cidades de pequeno e médio porte.
Nesses locais ainda resiste um jornalismo mais do que opinativo, chegando a ser
panfletário (de campanha), ou, como define Nilson Lage, publicista.
"O
paradigma do texto informativo era o do discurso retórico", diz Lage
(2001, p.10). A historiadora Isabel Lustosa mostra bem como era realizado esse
tipo de jornalismo em Insultos impressos (Companhia das Letras, 2000).
Antes da Independência, em 1821, já havia três jornais no Rio de Janeiro
trocando insultos: o Revérbero Constitucionalista Fluminense (liberal e
representante da maçonaria), o Espelho (monarquista, publicando,
inclusive, textos de D. Pedro I) e o Malagueta (liberal, mas agindo de
acordo com interesses pessoais de seu proprietário).
No
período oitocentista, os periódicos eram literários ou representavam grupos ou
idéias políticas. E esse último tipo era bem mais numeroso. Não se criavam jornais
para se ganhar dinheiro, mas para se defender idéias. Era comum criar uma
publicação para responder a outro jornal.
Diálogo
conflituoso
Seus
textos eram interessantes, corajosos e bem-escritos. Líderes políticos e as
melhores cabeças da época eram redatores ou donos de periódicos. Há muitos
exemplos entre os primeiros jornalistas brasileiros: Hipólito da Costa,
Evaristo da Veiga, Cipriano Barata, Frei Caneca, Teófilo Otoni, Padre Viegas,
Bernardo Vasconcelos, Líbero Badaró, os Andradas.
Há
uma lista extensa de grandes nomes, pessoas brilhantes que fizeram os
primórdios de nossa imprensa. Hoje eles são quase desconhecidos da atual
geração de jornalistas, ou lembrados apenas por sua atuação política.
Olhando
os jornais oitocentistas pode-se ver que algumas de suas características
permanecem no jornalismo regional. Principalmente seu caráter publicista. Os
jornais regionais costumam ser ligados a políticos, e, claramente, demonstram
ter como objetivo defender os interesses destes grupos. Muitas vezes são
deficitários, ou financiados indiretamente pelas prefeituras.
Também
é muito comum o diálogo conflituoso entre as publicações. Os periódicos se
acusam, fazem insinuações, provocações. Como no passado, algumas vezes são
criados jornais com o objetivo de responder às críticas de outro.
Leitores
insatisfeitos
Essas
são características comuns ao jornalismo oitocentista. Pena que algumas
qualidades da imprensa do século 19 não sejam encontradas nas publicações
atuais do interior. A qualidade do texto e o idealismo marcaram a imprensa
oitocentista. Havia também os fisiológicos, mas muitos defendiam ideais.
Jornais lutaram pela Independência, pela abdicação de D. Pedro I, pela abolição
da escravatura.
Ser
jornalista não era fácil nesse período. Muitos foram perseguidos, como Luís
Augusto May, redator de A Malagueta, que foi espancado a mando de D.
Pedro I. Mas as três principais vítimas, que podem ser consideradas mártires da
imprensa, foram Libero Badaró (assassinado), Frei Caneca (fuzilado) e Cipriano
Barata (que passou muitos anos preso).
Na
imprensa regional é raro encontrar idealismo e textos de qualidade. Uma
situação que precisa ser mudada, e a grande responsabilidade é das escolas de
Jornalismo implantadas em cidades do interior.
Os
leitores do interior ficam muito insatisfeitos com esse tipo de imprensa.
Talvez mais pela falta de qualidade do que pelas ligações políticas, mas só um
estudo poderia esclarecer a questão. No entanto, essa imprensa publicista, com
seus muitos defeitos, é responsável pela sobrevivência do jornalismo em
centenas de cidades.
Disponível em
Acesso em 22 de agosto de 2013.
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