Com curadoria de Veronica Stigger, mostra retrospectiva destaca não apenas 
as esculturas da artista, mas também suas pinturas, suas gravuras e seus 
escritos
 Uma obra longe da estagnação, da redundância, dos padrões delineados por algum movimento artístico
. A vocação metamórfica do trabalho da artista Maria Martins foi investigada a fundo 
pela pesquisadora 
e crítica de arte Veronica Stigger, estudiosa do legado da escultora. A partir desse 
recorte, ela assina a curadoria da exposição Maria Martins: metamorfoses, que 
ocupa a Grande Sala do Museu de Arte 
Moderna de São Paulo, com abertura no dia 10 de julho (quinta-feira), a partir das 
20h.
É uma das maiores mostras já realizadas da artista mineira, nascida em Campanha, 
em 1894, e que começou a estudar as técnicas da escultura na Bélgica, na década de 
30. São mais de 30 esculturas, a maioria em bronze, distribuídas em cinco núcleos –Trópicos, Lianas, Deusas e Monstros, Cantos e Esqueletos -, que são determinados
mais pela comunicação formal do que propriamente por uma ordem
cronológica. A exposição reúne também livros, artigos, obras bidimensionais em 
papel e cerâmicas de parede.
“É uma artista que não se enquadra em nenhum movimento de arte, ela tem um 
trabalho muito singular”
, descreve Veronica, apontando uma das características do trabalho de Maria que 
chamou sua atenção logo que começou a estudá-la, em 2006, quando iniciou seu
 pós-doutorado.
Segundo Felipe Chaimovich, curador do MAM-SP, a exposição é uma maneira de o 
museu lançar um olhar sobre a artista a partir do Brasil. Sem o devido reconhecimen-
to em seu país de origem, Maria Martins consolidou carreira internacional, a ponto 
de, no ano passado, ganhar postumamente destaque na Documenta de Kassel, umas 
das mais importantes mostras de arte contemporânea, realizada a cada
5 anos na Alemanha. Mais um motivo para o MAM revisitar a obra da artista. “Há 
muito tempo não havia um retrospectiva do trabalho da escultura, como faremos 
agora”, conclui Chaimovich.
Maria Martins: metamorfoses flagra as contínuas transformações da forma ao longo 
do desenvolvimento artístico de Maria Martins, a partir da fase desencadeada pela exposição de 1943, na Valentine Gallery, em Nova York, onde ela inaugurou sua 
terceira mostra individual, tida como um marco em sua trajetória. 
Lá, ela assumia, de vez, mudanças significativas – e irreversíveis – na concepção 
formal de seus trabalhos. Se antes sua representação do humano tendia ao tradicio- nal,com contornos mais nítidos, a partir dali, suas figuras, apesar de ainda reconhe-
cíveis, se entrelaçam a elementos da natureza.
Esse encontro do homem com a natureza foi alvo de reverências de artistas surrealis-
tas de seu tempo, como o escritor francês André Breton, autor do Manifesto Surrealis
ta de 1924. Na época da individual da brasileira na Valentine Gallery, ele disse: “Maria
conseguiu capturar tão maravilhosamente em sua fonte primitiva não apenas a angús-
tia, a tentação, a febre, mas também a aurora, a felicidade calma, e até mesmo às ve-
zes o puro deleite”. “Não diria que ela foi influenciada pelo surrealismo. O que aconte-
ceu foi que os surrealistas, como Breton e Péret, encontraram nos trabalhos dela as-
pectos que eram caros a eles, como esse encontro com a natureza”, ressalta a curado-
ra.
Do desejo de representar a Amazônia, veio a concretização nas esculturas de oito personagens-mitos, 
batizados deAmazôniaCobra GrandeBoiúnaYara, YemanjáAiokâIacy Boto
Alguns exemplares
dessa série exposta na emblemática mostra de 1943, como Amazônia e Boiúna
poderão ser vistos agora na exposição do MAM-SP. Outro destaque de Maria Martins: metamorfoses sã os 5 artigos que 
a artista escreveu para o Correio da Manhã, na década de 60, reunidos sob o título 
Poeira da vida, que voltam a público depois de anos, após serem encontrados por 
Veronica Stigger na Hemeroteca da 
Biblioteca Nacional.

SOBRE OS NÚCLEOS DA EXPOSIÇÃO:
TRÓPICOS
Antes da exposição de 1943, Maria Martins já vinha voltando sua atenção para temas brasileiros, mas
 ainda moldava seus SambaNegraYara em formas convencionais. Obras como Yemenjá Iacy já 
sinalizam o entrelaçamento do elemento humano ao vegetal, embora as figuras representadas sejam 
ainda claramente discerníveis.
LIANAS
Neste segundo conjunto de esculturas, há certa concentração nos elementos que 
eram secundários no primeiro: as formas enredadas que circundavam as figuras 
principais. Em Comme une liane, é a própria figura feminina que tem seus membros convertidos em algo semelhante a galhos flexíveis ou cipós.
DEUSAS E MONSTROS
Ao longo da carreira, Maria produziu uma série de deusas e monstros, nos quais a 
figura humana 
aparece transformada. Em Impossible, a escultura mais célebre deste núcleo, o 
caráter erótico da metamorfose se explicita: dois corpos, um feminino e um mascu-
lino, são impedidos de se aproximar totalmente em função das estranhas formas pontiagudas de suas cabeças, ao mesmo tempo em que parecem magneticamente – amorosamente – ligados para sempre.
CANTOS
Em seu livro sobre Nietzsche, Maria Martins demonstra especial admiração pelos  
cantos de Zaratustra. 
Em O canto da noite (título que ela toma emprestado para uma de suas esculturas), Nietzsche escreve:
“Uma sede está em mim, insaciada e insaciável, que busca erguer a voz”. Em 
canto do mar e na escultura sem título, as formas se tornam mais arredondadas, 
mais indefinidas, mais abstratas, numa possível tentativa de dar forma ao que não é palpável, como a voz.
ESQUELETOS
De uma maneira geral, a obra de Maria Martins se voltou sobretudo para as formas orgânicas. No
entanto, há um conjunto de trabalhos que tendem à forma do esqueleto, ou seja, 
que se concentram 
naquilo que, no organismo, bordeja o inorgânico. Tamba-tajá e Rito dos ritmos
perdem corporalidade, se comparadas com outras esculturas suas, e se reduzem a ossaturas. Pourquoi toujours, que pode 
lembrar a forma de uma planta, é toda pontuada por pequenas caveiras. É como se 
Maria, barrocamente, nos recordasse que o que resta do humano, ao fim das metamorfoses, são os ossos. Somente a eles corresponde talvez a utopia de uma 
forma final.
Sobre A CURADORA:
Veronica Stigger é escritora, pesquisadora, crítica de arte e professora universitária. 
Fez doutorado em Teoria e Crítica de Arte pela Universidade de São Paulo (USP), com
tese sobre a relação entre arte, mito e rito na modernidade, com ênfase nas obras de 
Piet Mondrian, Kasimir Malevich, Marcel Duchamp e Kurt Schwitters. Também tem 
pós-doutorado pela Università degli Studi di Roma “La Sapienza” e Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), no qual desenvolveu 
pesquisa sobre as obras de Maria Martins e Flávio de Carvalho. Atualmente, é coordenadora de escrita criativa na Academia Internacional de Cinema e professora 
de pós-graduação em História da Arte e Fotografia na Fundação Armando Alvares 
Penteado (FAAP). É autora de livros como 
Gran Cabaret Demenzial Os Anões, além de ser uma das escritoras de Maria
organizado por Charles Cosac.
O MAM está no Google Art Project
Acesse: www.googleartproject.com/collection/museu-de-arte-moderna-de-sao-paulo/
SERVIÇO:
Maria Martins: metamorfoses – Grande SalaCuradoria: Veronica Stigger
Abertura: 10 de julho de 2013 (quarta-feira), a partir das 20h
Visitação: 12 de julho  a 15 de setembro de 2013
Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo (Sala Paulo Figueiredo)
Endereço: Parque do Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portão 3)
Horários: Terça a domingo, das 10h às 17h30 (com permanência até as 18h)
tel (11) 5085-1300
Ingresso: R$ 6,00
Sócios do MAM, crianças até 10 anos e adultos com mais de 65 anos não pagam 
entrada. Aos domingos,a entrada é franca para todo o público, durante todo o dia
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