HISTÓRIA DA IMPRENSA
Em Minas, nascimento tardio
Por Jairo
Faria Mendes em 31/05/2005 na edição 331
As
Minas Gerais foram a principal capitania brasileira do século 18, e tiveram uma
grande importância na história colonial. Por causa do ouro dessa capitania, a
capital foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro. E, o mais
importante, a colônia se povoou, e ganhou importância. De acordo com Augusto de
Lima, em A Capitania de Minas Gerais, 40% da população portuguesa se
deslocaram para o Brasil, no século 19, depois da descoberta de ouro e
diamantes nas Gerais.
A
capitania também tinha características especiais, que a faziam se destacar na
colônia, como explica Francisco Iglésias. Enquanto no resto do Brasil
prevalecia a monocultura, o latifúndio e a escravidão, nas Minas existia uma
sociedade urbana, diversificada e dinâmica. Como diz Augusto de Lima "o
ouro de Minas Gerais introduziu a civilização e a cultura num Brasil
semibárbaro, pela disseminação e isolamento das populações".
Por
volta de 1870, começou a decadência do ouro, mas a capitania já tinha uma
sociedade bem estruturada. "(...) suas jazidas podem esgotar-se em poucos
anos; mas sua influência benemérita e criadora persiste", diz Augusto de
Lima. Um exemplo disso é que, no fim do século 19, as Minas eram a capitania
mais populosa do Brasil.
No
entanto, paradoxalmente a isso, os jornais surgiram tardiamente na região. Era
de se esperar que a capitania (depois província) acompanhasse outras regiões
importantes do Brasil, e visse o nascimento de uma imprensa forte e dinâmica
assim que foi liberada a publicação de jornais na colônia, em 1821, como
conseqüência da Revolução do Porto, em Portugal.
As
Minas foram a sexta província a ter jornais circulando. A primeira foi a do Rio
de Janeiro, que, em 10 de setembro de 1808, ganhou a Gazeta do Rio de
Janeiro. Em segundo lugar, ficou a Bahia, onde, em 14 de maio de 1811,
começou a circular a Idade d’Ouro do Brazil. Depois, em 21 de março de
1821, em Pernambuco surgiu a Aurora Pernambucana. A quarta a ter jornais
foi a do Maranhão, que, em 10 de novembro de 1821, ganhou O Conciliador do
Maranhão (ele já circulava manuscrito desde 15 de abril). Em quinto lugar
ficou o Pará, onde, em março de 1822 surgiu O Paraense. Nas Minas, só em
13 de outubro de 1823 (um ano e meio depois do Pará) surgiu o primeiro jornal,
o Compilador Mineiro.
Até
o fim de 1822 (quase um ano antes do primeiro jornal mineiro), já tinham sido
criados mais de 50 periódicos no Brasil. Mesmo antes da independência, Rio de
Janeiro, Bahia e Pernambuco já possuíam uma imprensa muito dinâmica e com
grande influência política. Aliás, os jornais serão o principal instrumento na
luta pela independência, como mostra Isabel Lustosa em Insultos impressos.
Com
a vinda da Família Real para o Brasil, no Rio de Janeiro começou a circular, em
10 de setembro de 1808, o primeiro jornal produzido no país, a Gazeta do Rio
de Janeiro. Alguns meses antes, em 1º de junho de 1808, saiu a primeira
edição do Correio Braziliense, mas este era impresso em Londres. Miguel
Costa Filho, em A imprensa mineira no Primeiro Reinado, lembra que
"o primeiro jornal brasileiro nasceu, viveu e morreu longe de nossas
fronteiras" (p. 4).
Pressão
Na
Bahia, em 14 de maio de 1811 surgiu o segundo jornal impresso no Brasil: o Idade
d’Ouro do Brazil. Também foi baiana a primeira revista literária do país, As
Variedades (ou Ensaios de Literatura), um semanário criado em 1812. Em
1813, no Rio de Janeiro, começou a circular O Patriota, uma publicação
literária e mercantil, feita na Imprensa Régia.
A
Revolução do Porto, em 1820, facilitou a impressão e a leitura de livros e
periódicos. Por isso, em 28 de agosto de 1821, um Aviso comunicou o fim das
restrições para criação de publicações na colônia. Com isso, surgiram vários
jornais, em 1821, nas Capitanias do Rio de Janeiro, Pernambuco, Bahia e
Maranhão. Alguns deles, meses antes do Aviso de agosto de 1821.
Antes
do surgimento do primeiro jornal mineiro em outubro de 1823, a imprensa já
tinha tido uma participação muito importante no Rio de Janeiro, Bahia e
Pernambuco. Essas Capitanias (depois províncias) possuíam jornais muito
combativos que influenciavam as decisões políticas.
No
Rio de Janeiro, dentre seus vários jornais, destacava-se o Revérbero
Constitucional Fluminense na defesa da Independência. Em 1821, também
surgiu o combativo A Malagueta, cujo proprietário, Luis Augusto May, foi
espancado duas vezes, a mando de pessoas ligadas a D. Pedro I.
Na
Bahia, em 1821, foi criado o Diário Constitucional, que defendia com
coragem os interesses brasileiros, e, por isso, sofria todo tipo de pressão. Em
1822, foram criados sete publicações com o objetivo de combater o
Constitucional (nesse período ele não era mais diário). E, como este não se
intimidou, o jornal foi fechado à força.
Cautela
Em
Pernambuco, em 1822, começou a circular a Sentinela da Liberdade, de
Cipriano Barata, um símbolo da combatividade jornalística. Por isso, o
jornalista ia de uma prisão a outra. Ele acrescentava ao título do periódico o
local onde se encontrava detido, e, por isso, o Sentinela teria 11 nomes
diferentes. Em 1823, surgiu o Typhis Pernambucano, do mártir da imprensa
brasileira Frei Caneca.
Enquanto
isso, as Minas ainda não tinham periódicos. Várias outras províncias também não
possuíam jornais. No entanto, as Minas tinham uma importância muito grande, e
era de se esperar que estivessem acompanhando o movimento de nascimento de
nossa imprensa.
Quando
surgiram, os jornais mineiros não seguiam a linha agressiva da imprensa
carioca, baiana e pernambucana. Os estudos sobre a imprensa das Gerais no
século 19 destacam que os jornais na província eram moderados. Sandoval Campos,
em Imprensa Mineira, publicado em 1822, diz: "O que não deve se
deixar de lado, entretanto, é a ética da imprensa mineira, admirável de
prudência e de bom senso, benéfica na sua moderada e esclarecida doutrinação,
mesmo nas situações de maior melindre, ao embate violento das crises".
O Compilador
Mineiro circulou de 13 de outubro de 1823 a 9 de janeiro de 1824. Cinco
dias depois surgiu o Abelha do Itaculumy, que durou até 11 de julho de
1825. Uma semana depois apareceu um jornal que teve muita importância na
política mineira, O Universal, que teve como redator principal, até
1833, o polêmico político Bernardo Vasconcelos. Esta publicação foi combativa,
mas sempre com a cautela característica da imprensa mineira. No entanto, em
1842, seu proprietário, que na época era José Pedro Dias de Carvalho, tomou uma
das decisões mais radicais da história da imprensa brasileira. Fechou o jornal,
e derreteu os tipos para fundir balas de fuzil para serem utilizadas na
Revolução de 1842.
Pioneirismo
O
curioso é que, apesar dos jornais terem sido tardios nas Gerais, os mineiros
tiveram uma participação destacada nas primeiras experiências ligadas a arte da
impressão. O mineiro frei José Mariano da Conceição Veloso, primo de
Tiradentes, foi o fundador e diretor da Oficina Tipográfica, Calcográfica e
Literária do Arco do Cego, em Lisboa, que funcionou apenas de 1799 a 1801. O
local foi um ponto de encontro de intelectuais brasileiros e, principalmente,
mineiros. Precursores da imprensa brasileira eram freqüentadores da Oficina e,
certamente, lá aprenderam muito da arte da impressão. São os casos de Hipólito
da Costa, o fundador do primeiro jornal brasileiro (Correio Braziliense), e o
padre José Joaquim Viegas de Menezes, o precursor da imprensa e do jornalismo
mineiro.
O
outro nome de destaque é exatamente uma das "crias" de Frei Veloso, o
padre Viegas, que realizou a primeira impressão conhecida nas Minas. Segundo
Lygia F.F. Cunha, em Uma Raridade Bibliográfica, ele também foi a primeira
pessoa a realizar uma gravação em metal no Brasil. Foi um poema, também chamado
de canto panegírico, homenageando o governador da Capitania das Minas Gerais,
Pedro Maria Xavier de Athayde e Melo, que ele imprimiu, em 1807, usando a
calcografia. Isso ocorreu um ano antes da transferência da Imprensa Régia para
o Rio de Janeiro.
O
padre Viegas também construiu uma tipografia, no período de 1820 a 1821, que
teve autorização para funcionar só um ano depois, e foi o criador do pioneiro
Compilador Mineiro.
Esse
destaque que as Gerais tiveram na arte da impressão torna mais curiosa a
questão do tardio aparecimento dos jornais. A Capitania contava com pessoas que
conheciam as técnicas impressão. Além disso, em 1821, já havia uma tipografia
em Vila Rica (ainda esperando autorização), e em 1822, duas em funcionamento.
Disponível em:
Acesso em 22 de agosto de 2013.
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