Carta
de criança
por
Denis Plapler
Querido
professor,
O
senhor pode nos aprisionar em sua escola, em sua sala de aula e até mesmo
enfileirar-nos por horas nestas justas carteiras, mas jamais poderá prender o
nosso pensamento. Com muito esforço conseguirá, quem sabe, aprender sobre ele.
Pois, enquanto o seu pensamento marcha, o pensamento das crianças dança, e nesta
dança acaba por acomodar-se nos mais inesperados lugares.
O
pensamento das crianças é livre, troca de par a toda hora, segue uma coreografia
de ritmo próprio. Seus passos acompanham o som de canções surdas aos adultos,
levam nossa imaginação a lugares distantes. Visita indagações a respeito do
funcionamento da natureza, beija a boca da mais bela garota, ou garoto, da
escola, se diverte nos parques e campos de futebol e, nos piores dias, pousa
sobre os problemas que se passam dentro das casas e o senhor nem faz ideia.
Por
isso entenda, nós não temos dificuldade de prestar atenção em sua aula, é o
senhor que tem dificuldade de prestar atenção em nós. Logicamente somos muitos
para sermos observados por apenas um, mas não fomos nós que inventamos isto e
não acreditamos que devemos pagar pelos erros daqueles que o fizeram.
Então,
por favor, não nos encaminhe para que um especialista qualquer nos medique por
não acharmos suas aulas interessantes. Queremos saborear a vida conscientes. Não
nos avalie com base em suas provas, pois certamente provarão como não pensamos
todos da mesma maneira.
Nenhuma
criança tem dificuldade de prestar atenção, se não estamos atentos ao senhor,
estamos concentrados em outras coisas. Entende? Simplesmente prestamos atenção
naquilo que mais nos interessa e sua aula pode não ser interessante para nós
neste momento. Não é nada pessoal, não fique zangado. Quem sabe, inclusive, se o
senhor nos permitir investigar estas questões que passam pelas nossas cabeças,
as aulas se tornariam bem mais atraentes e significativas.
Lembre-se
professor, nosso amigo Nietzsche já dizia: “maturidade
no homem é resgatar a serenidade que se tinha quando criança ao
brincar”.
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