quinta-feira, 26 de setembro de 2013

EDUCAÇÃO NO BRASIL DESPERDIÇA RECURSOS!

25/09/2013 11h54 - Atualizado em 25/09/2013 11h54


Educação no Brasil desperdiça 



recursos, diz especialista português


José Pacheco participa de congresso sobre educação em Pernambuco.
Educador desenvolve projetos em escolas sem sala, série e provas.


Vitor TavaresDo G1 PE
O português José Pacheco participa de congresso no Recife (Foto: Divulgação)O português José Pacheco participa de congresso no
Recife (Foto: Divulgação)
A primeira experiência aconteceu na Cidade do Porto, em Portugal – uma escola sem sala de aula, sem séries e sem provas de avaliação. É dessa forma que o educador português José Pacheco acredita numa formação mais comprometida com os estudantes e com a sociedade em geral. Também já com suas ideias implantadas no Brasil, através do Projeto Âncora, em Cotia (SP), Pacheco participa a partir desta quarta-feira (24) do Congresso Internacional de Tecnologia na Educação, no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda.
A Escola da Ponte, no Porto, foi fundada em 1976. Lá, não existe divisão de turmas ou disciplinas, e os professores não ficam fixos em uma disciplina ou em série específicas. Os estudantes, por sua vez, possuem a liberdade para escolher áreas de interesse e a participação em projetos de pesquisa. Para Pacheco, o modelo atual de educação desenvolvido no Brasil - defasado - é um desperdício de dinheiro público e não contribui com a formação dos alunos.
G1 conversou com o educador português por e-mail sobre os projetos implantados em Portugal e no Brasil e como ele enxerga atual situação da educação nos países. Confira, abaixo, a entrevista realizada com José Pacheco.
G1 - O Brasil possui teóricos da educação que propuseram um novo método de ensino, como o pernambucano Paulo Freire. Entretanto, vemos que o modelo de ensino no país não mudou na sua essência. Por que o senhor acha que isso acontece? Há algum tipo de barreira contra esse tipo de inovações?

José Pacheco - O modelo de escola do século XIX, que ignora os contributos dos grandes pedagogos que o Brasil teve e têm, produziu 30 milhões de analfabetos. No Brasil, como em Portugal e em outros países, continuamos a ensinar jovens do século XXI com professores do século XX e um paradigma do século XIX. Esse é o principal problema. Com ou sem novas tecnologias; aliás, as novas tecnologias até podem contribuir para aprofundar a crise se forem usadas em função do paradigma velho.
O modelo de escola com origem na França, na Prússia e na Inglaterra da Revolução Industrial faliu há mais de cem anos. O Caetano de Campos já falava isso no tempo do Império. Será que se mantém porque convém que se mantenha desigualdade, que haja marginalidade, um povo ignorante dos seus direitos?

Pergunto muitas vezes a mim mesmo como, perante as evidências dos rankings e das violências múltiplas que vivemos, dentro e fora do ambiente escolar, se consegue manter essa situação. Como diria João Cabral de Melo Neto, as escolas brasileiras são como usinas que engolem gente e vomitam bagaço.

G1- Como funciona a proposta da Escola da Ponte e do Projeto Âncora? Como os alunos formados nesses locais saem para a vida profissional e pessoal?
José Pacheco - Nas duas escolas, como em muitas escolas no Brasil e no mundo, as normas e regras que orientam as relações societárias não são impostas, são normas e regras que decorrem da necessidade sentida por todos. E a escola  possui uma organização de  espaço escolar diferente das escolas tradicionais. Não há aula, segmentação em séries, ciclos, classes, ou níveis. Nada disso tem fundamento científico. Nessas escolas, há práticas coerentes com valores livre e coletivamente assumidos; há verdadeiros projetos.
A avaliação acontece quando o aluno sente que cumpriu determinada tarefa, que alcançou determinado objetivo, que aprendeu determinado conteúdo, que cumpriu determinado projeto. A partilha do conhecimento produzido é a avaliação. Os relatórios de avaliação externa, realizadas por uma equipe de avaliadores independentes, nomeados pelo ministério a pedido do Ministério da Educação, são uma das provas da boa qualidade do projeto.
Os ex-alunos da Ponte – alguns já com mais de 50 anos de idade – são a prova da boa qualidade do projeto. São seres humanos plenamente realizados, com elevado nível de consciência cívica, éticos, empreendedores, solidários. Deverei acrescentar que a Ponte recebe alunos que as outras escolas jogam fora, e os recupera. Aluno que não aprende em outra escola, ou aluno que põe professor em estado de coma em outra escola, vai para a Ponte.

G1- O que falta para o Brasil assumir esse modelo de educação? Já existe uma estrutura pronta? Os profissionais são capazes de assumir essa nova forma de ensinar?
José Pacheco - Falta uma política pública séria, competente. O Brasil tem tudo aquilo que precisa para melhorar a educação. Não para importar modelos, mas para concretizar a Lei de Diretrizes e Bases, com apoio nos contributos de excelentes teóricos e de projetos, que vão surgindo por todo o país. Sou crítico dos titulares do poder público que continuam a fomentar o desperdício, a infelicidade e a ignorância. Porque sei ser possível outra escola, fui prefeito.

G1 - O senhor vê deficiência nas faculdades de pedagogia?

José Pacheco - Fico indignado quando vou às faculdades de pedagogia e não vejo nas bibliotecas nenhum livro do Lauro de Oliveira Lima ou de outros de sua geração, nem da Maria Nilde ou de Nize da Silveira. Vejo os Piagets, os Vygotskys. Entretanto, as escolas brasileiras continuam a ser controladas pela burocracia, quando as suas práticas deveriam obedecer a critérios de natureza pedagógica. Sem generalizar, porque o Brasil tem excelentes faculdades.
G1 - Como fica a figura do professor num projeto como esse? Ele teria que perder aquela imagem autoritária?

José Pacheco - Os professores terão de assumir ser necessária a reelaboração da sua cultura pessoal e profissional, substituir uma cultura solitária por uma cultura solidária. Neste capítulo, muito se decide no campo da formação. As instituições de formação de professores deverão reconhecer que a teoria não antecede a prática e que são as dificuldades de ensinagem que reclamam a teoria e a contextualizam em práxis coerentes; deverão recorrer a modalidades de formação que respeitem o princípio do isomorfismo na formação; e os educadores não deverão ser considerados como objeto de transmissão de informação, mas como sujeitos de formação no contexto de equipes de projeto.

G1 - Como é a aceitação do Projeto Âncora do Brasil? Acredita que ela está aumentando?
José Pacheco - Apesar de ter apenas um ano e meio de vida, o Projeto Âncora acolhe, semanalmente, dezenas de educadores do Brasil e do estrangeiro. É lócus de pesquisa, para dissertações e teses de doutoramento. É motivo de notícia na mídia. Mas também é alvo de campanhas de desacreditação, boatos, animosidades.


G1 - O senhor costuma dizer que, no Brasil, não faltam recursos para a educação. Esse modelo de comunidade de aprendizagens seria mais barato?
José Pacheco - O Brasil não tem falta de recursos. O Brasil desperdiça recursos. O último relatório da Fiesp [Relatório Educação: gastos públicos e propostas de melhorias, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, de outubro de 2010], sobre dez anos de desempenho do Ministério da Educação, mostra que o sistema educativo brasileiro desperdiça por ano R$ 56 bilhões. O custo aluno/ano do Brasil é elevado e os Idebs são miseráveis. Que maiores evidências serão precisas para modificar o modo como se faz política pública neste país?
O modelo das comunidades de aprendizagem será mais barato – o que permitirá, por exemplo, que os professores venham a ter um salário digno –, mas, mais do que isso, será uma das possibilidades de criação de uma nova construção social de escola, na qual, todos possam ter condições de serem sábios e felizes.
G1– A sociedade brasileira se acostumou com escolas com classes, professores e disciplina, buscando conteúdo para realizar o vestibular. Como mudar esse pensamento? O atual modelo do Enem já é uma evolução?

José Pacheco - Poder-se-á modificar a representação que as famílias e a sociedade têm de escola, por exemplo, demonstrando que esse modelo de escola produz ignorância, exclusão e pouca aprendizagem.
O Enem é um dispositivo algo melhor do que o tradicional vestibular, mas continua a ser uma prova, um dispositivo de avaliação muito falível. O vestibular e o Enem não se justificariam, se houvesse verdadeira avaliação nas escolas. Hoje, apenas se justifica, porque a educação básica está sucateada e porque existe a indústria do cursinho. 

G1 – O senhor acha que o modelo da Escola da Ponte e do Projeto Âncora ainda precisa ser aperfeiçoado?
José Pacheco - Certamente! Um projeto está em permanente fase instituinte. A Ponte é considerada a melhor escola do meu país, conseguiu alcançar excelência acadêmica com garantia de inclusão social e desenvolvimento humano sustentável. Mas está longe de mim a ideia de o projeto da Escola da Ponte estar perto da perfeição. Ele apenas tem cerca de quarenta anos de existência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

VENDO ECOSPORT 2.0 CÔR PRETA

 VENDE-SE Veículo ECOSPORT 2.0 ANO 2007 FORD   -  CÔR PRETA KM: 160.000 R$35.000,00 Contato: 9.8848.1380

Popular Posts