Morre em Florianópolis Ivo de Jesus, cego apaixonado pela leitura
Diário Catarinense - 27/08/13
Morreu na manhã da última segunda-feira (26/08) o deficiente visual que ficou conhecido em toda a Florianópolis por sua paixão pela leitura. Ivo Manoel de Jesus faleceu em decorrência de complicações causadas pela diabetes. Seu Ivo nasceu no Morro da Caixa, comunidade localizada no Centro da Capital Catarinense, no dia 7 de julho de 1947.
Aos três anos foi deixado pela sua mãe biológica aos cuidados das freiras que trabalhavam onde atualmente funciona o Asilo Irmão Joaquim, no Centro, e foi lá que ele morou durante toda sua vida.
Na idade escolar, as freiras mandaram Ivo estudar braile no Instituto Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro, mesmo local em que também aprendeu música. Quando voltou à capital catarinense, foi exemplo de superação e dedicação às coisas que gostava.
A cegueira não fez com que deixasse de conhecer as cores do mundo _ os livros o levavam para onde ele quisesse e, quase sempre, era possível assisti-lo sentado no ponto de ônibus em frente ao asilo, sozinho, lendo suas obras.
O amor pela leitura era tanto que, aos 66 anos, leu um acervo com cerca de dois mil títulos. Entre eles, alta literatura como Jorge Amado, Machado de Assis e Monteiro Lobato. Quando acabava uma obra, lá estava Ivo atravessando o Centro com sua bengala e indo em direção à Biblioteca Municipal buscar mais livros. Quando acabou o estoque do local, foi preciso fazer um convênio com outros estados para importar mais exemplares em braile.
Nas festas do asilo ele também era uma das atrações principais. Gostava de animar os bailes tocando teclado ou sanfona, era preciso só ouvir algumas notas na voz do cantor que ele sabia continuar a música com seu instrumento.
Por ser o morador mais antigo da casa e ser conhecido pela fácil comunicação e gentileza, foi um marco no Irmão Joaquim. Vitor Warken Filho um dos diretos do asilo conta como ele conquistava até os jovens:
— Era uma pessoa bem quista por todos, inclusive pelos estudantes do colégio em frente ao asilo que muitas vezes vinham conversar com ele enquanto estava sentado no ponto de ônibus lendo.
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