Do amor e outros demônios (Gabriel García Márquez)
Gabriel García
Márquez é muito conhecido por seu realismo fantástico, presente
intrinsecamente em obras como Cem Anos de Solidão, o que difere um pouco nesta
obra, Do Amor e Outros Demônios. Aqui o amor é tratado de
forma pungente e realista, inquirindo-nos até mesmo a pensar se retratado é
mesmo o amor, de forma que há muito mais demônios no livro do que qualquer outra coisa.
A segunda parte tem um tom macabro e o assunto
exorcismo entra em cena. Não é uma metáfora do amor, Sierva Maria de Todos los
Angeles está realmente possuída, com direito a jorros de vômito verde (a melhor
cena do livro), objetos tremendo, tudo muito O Exorcista. O Padre Cayetano
Delaura trata do exorcismo de Sierva e por esta se apaixona, mas é um amor que
não convence, pois não insta a comoção do leitor, foi uma situação repentina e
ausente de preparação delicada que o amor merece; muito diferente dos outros
romances descritos por Gabo e distinto até mesmo das outras relações românticas
presentes no livro.
Também na segunda parte entra em cena a figura
de um médico que questiona a religiosidade; um embate de ideias ocorre entre
este e o padre Delaura. A dúvida se instaura primeiramente como uma pequena
semente no cônego, e passa a se alastrar posteriormente, qual ramo de figueira,
em outros personagens. A fé inicial passa a se dissolver, juntamente com a
esperança que consegue resistir mais um pouco. A aura tenebrosa do livro vai
encobrindo paulatinamente todos os núcleos. As freiras e outros padres do
convento onde Sierva Maria está internada são tratados como vilões adicionais,
acrescidos à possessão demoníaca, uma possível crítica à igreja da época,
remetendo em grande parte à hipocrisia praticada pela classe.
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