quinta-feira, 21 de novembro de 2013

DICA DE UMA BOA LEITURA.

Do amor e outros demônios (Gabriel García Márquez)

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Gabriel García Márquez é muito conhecido por seu realismo fantástico, presente intrinsecamente em obras como Cem Anos de Solidão, o que difere um pouco nesta obra, Do Amor e Outros Demônios. Aqui o amor é tratado de forma pungente e realista, inquirindo-nos até mesmo a pensar se retratado é mesmo o amor, de forma que há muito mais demônios no livro do que qualquer outra coisa.
O livro pode ser divido em duas partes: a primeira narra a vida dos pais de Sierva Maria de Todos los Angeles (a que de uma primeira vista dá a entender que é a protagonista, mas não muito se fala dela sem que outros dos três personagens principais estejam presentes e com o foco narrativo direcionado a estes), a saber: Bernarda Cabrera, a mãe que odeia a filha; e Marquês de Casalduero, o pai que passou a dar valor à filha um pouco tarde; e depois de umas cem páginas, o foco é no padre Cayetano Delaura, que tratara da possessão de Sierva Maria.
Usando a divisão feita acima, na primeira parte temos uma narração descontraída, o realismo fantástico aparece vez ou outra, e nos lembramos de como é bom ler Gabo. Temos a história dos pais de Sierva María, conhecemos seus trejeitos, suas personalidades idiossincráticas, como eles se suprem da necessidade do amor, e como é o presente destes vivendo agora em família. Mesmo livre de tensão ainda pode-se notar que não existe aquele amor idealizado presente Em Cem Anos de Solidão ou O Amor nos Tempos do Cólera, o amor torna-se um dote, um sentimento com um preço.
A segunda parte tem um tom macabro e o assunto exorcismo entra em cena. Não é uma metáfora do amor, Sierva Maria de Todos los Angeles está realmente possuída, com direito a jorros de vômito verde (a melhor cena do livro), objetos tremendo, tudo muito O Exorcista. O Padre Cayetano Delaura trata do exorcismo de Sierva e por esta se apaixona, mas é um amor que não convence, pois não insta a comoção do leitor, foi uma situação repentina e ausente de preparação delicada que o amor merece; muito diferente dos outros romances descritos por Gabo e distinto até mesmo das outras relações românticas presentes no livro.
 Também na segunda parte entra em cena a figura de um médico que questiona a religiosidade; um embate de ideias ocorre entre este e o padre Delaura. A dúvida se instaura primeiramente como uma pequena semente no cônego, e passa a se alastrar posteriormente, qual ramo de figueira, em outros personagens. A fé inicial passa a se dissolver, juntamente com a esperança que consegue resistir mais um pouco. A aura tenebrosa do livro vai encobrindo paulatinamente todos os núcleos. As freiras e outros padres do convento onde Sierva Maria está internada são tratados como vilões adicionais, acrescidos à possessão demoníaca, uma possível crítica à igreja da época, remetendo em grande parte à hipocrisia praticada pela classe.
Gabriel García Marquez teve como inspiração para a história uma lenda que ouvia quando criança, de uma menina que cabelos gigantes que fora mordida por um cão (Sierva Maria também é mordida por um cão, e num primeiro momento dá-se a razão de sua possessão à hidrofobia), o que difere muito da história madura que se encontra em Do Amor e Outros Demônios, uma trama que beira a pungência da vida real, revelando demônios que todos enfrentamos, incluindo o mais angelical deles, o amor.

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