sexta-feira, 22 de novembro de 2013

TUDO MUDA. JOSÉ PACHECO.

Todo cambia
O Brasil foi incapaz de levar às últimas consequências as nobres intenções de dois manifestos, consentindo a perenização de uma tragédia educacional hoje traduzida em trinta milhões de analfabetos e numa profunda crise moral. Mas estamos “de novo convocados”!
Partilhei o lançamento do terceiro manifesto. Foi, como alguém disse, um “ato de amor”. E, confesso que, em muitos momentos da conferencia, a emoção me traiu e deixou mudo... Ainda sob o efeito da CONANE, evoco versos cantados pela Mercedes: Cambia lo superficial / Cambia también lo profundo / Cambia el modo de pensar / Cambia todo en este mundo. No decurso da Conferência, a diversidade dos projetos apresentados deu a entender que a velha escola parece estar a parir uma nova educação, embora acredite que as dores do parto venham a ser intensas, enquanto a tecnocracia e a burocracia continuarem a invadir domínios nos quais deveria prevalecer a pedagogia. A velha educação prevalece, travestida de “novo”, no discurso de economistas, engenheiros, técnicos de informática, jornalistas, gestores, diretores de marketing, ex-ministros, empresários, gente de boa vontade, mas desprovida de conhecimento pedagógico, crente de que as escolas podem ser geridas como são geridas as padarias. Gente dessas profissões participaram da CONANE. Mas não se fez sentir a racionalidade técnico-instrumental, que pontifica nos eventos onde aqueles que a média classifica de “especialistas” vendem caro as besteiras que proferem.
O tempo desses “especialistas” está a chegar ao fim, porque já o Fernando nos dizia que o sonho é ver as formas invisíveis / da distância imprecisa, e, com sensíveis / movimentos da esperança e da vontade, / buscar na linha fria do horizonte / a árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte… Em boa hora o MEC tomou a decisão de criar um grupo de trabalho, que acompanhe e avalie projetos em curso, que provam a possibilidade do verdadeiramente novo. Todo cambia... Até o MEC pode mudar.
Podereis chamar-me utópico, que não me ofendo. Se o poder púbico (MEC, secretarias de educação) decide conferir estatuto de visibilidade a escolas, que já vinham afirmando múltiplas possibilidades de mudança, este é um momento histórico. Essas escolas serão acompanhadas e estudadas, será testada a qualidade e utilidade dos seus projetos. São projetos como muitos outros, que importa dar a conhecer e que provam a vitalidade da componente saudável de um sistema doente. Que mostram caminhos e apresentam reivindicações: a dignidade de um estatuto de autonomia estipulado no artigo 15 da LDBEN; a prática de uma educação integral; uma universidade que se distancie de práticas de formação incompatíveis com necessidades educacionais do século XXI; o reconhecimento público dos profissionais da educação, traduzido também em salários dignos, à altura de sua importância social; o fim do desperdício decorrente de más políticas públicas; a substituição da reprovação e da aprovação automática pela prática de uma avaliação capaz de permitir que o aprendizado caminhe junto com o desenvolvimento do pensar, a formação do caráter e o exercício da cidadania, entre outras.

O Brasil dispõe de produção científica e de práticas que provam a possibilidade de uma escola que a todos acolha e a todos dê condições de realização pessoal e social, base da construção de uma sociedade solidária, justa e sustentável. E, num país onde o tempo da educação talvez tenha chegado, temos tudo aquilo que é preciso: gente, projetos, esperança.
José Pacheco

Um comentário:

  1. Um recado para Campanha, para a Secretaria Municipal de Educação de Campanha!!! Que cada cidade entenda isso para sua própria gente!!!! Não sou da área de educação, mas esse tema afeta e importa a todos!!!!!! Paulo César Dias

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