Raízes e Asas (14)
Informações e reflexões sobre pessoas imprescindíveis; formas
de
expressão preciosas e experiências inovadoras
em
educação, arte e cultura"
Maria
Antonia de Oliveira*
PROFESSOR JOSÉ PACHECO
No lançamento da edição portuguesa do livro “A Escola que sempre
sonhei, sem imaginar que pudesse existir”, o autor, Rubem Alves convidou alguns
educadores para acompanhá-lo e fazer um estágio na Escola da Ponte, Vila das
Aves, Portugal. Fui uma das convidadas e participei desta experiência tão
marcante! Muito vi e aprendi. Foi lá que conheci o Professor José Pacheco,
diretor e principal idealizador daquele sonho. Era mês de abril, e “calhou” de
estarmos lá no dia 25, na comemoração da Revolução dos Cravos. Um dos momentos
inesquecíveis, depois de um delicioso jantar oferecido pela equipe da escola,
foi ouvir o Zé (como o grande educador prefere ser chamado) tocar guitarra
portuguesa e cantar emocionado “Grândola, vila morena” (canção símbolo da
revolução portuguesa). Tive a oportunidade de encontrá-lo outras vezes aqui no
Brasil, em uma delas fui buscá-lo na Unesp de Araraquara para uma palestra na
escola em que eu trabalhava. No caminho até Rio Preto, contou-nos um pouco da
sua infância de menino carente. Morou em um cortiço e sofreu abusos (não
especificou o quê, e apesar da minha enorme curiosidade, tive a capacidade de me
conter e não perguntar de que tipo). Ele afirmou: “Sou um resiliênte, por ter
sobrevivido e não me tornado um bandido”. Entre outros detalhes relatou como foi
importante para este processo de resiliência ter tido a sorte de ser vizinho de
um senhor bem idoso e culto, que lhe emprestava livros, conversava com ele e o
incentivava a gostar de música. Ou seja, encontrou um mentor – que é uma das
características chaves para o desenvolvimento da capacidade de superar grandes
pressões e ainda sair fortalecido. Sabendo bem o que é sofrer, tendo vivido na
pele a importância do apoio, do respeito e da boa instrução, hoje este ex-menino
pobre é um dos principais nomes da educação em Portugal, no Brasil e seu
trabalho na Escola da Ponte é uma referência internacional. Depois de se
aposentar na Escola da Ponte, mudou-se para nosso país, faz palestra e inspira
educadores por todo o lado. Entre outros
trabalha no Projeto Âncora, em Cotia. Domingo dia 5 de maio, foi entrevistado no
programa da Regina Casé. Desde a série
“Um Pé de quê”, sou fã da apresentadora, fiquei feliz ao vê-lo falando para um
canal de grande audiência. Mesmo de maneira rápida e simples ele tocou em pontos
importantíssimos, que procuro aqui
reproduzir. Disse que por muitas razões estamos em uma terra privilegiada, que
poderia enumerar mais de 100 projetos educacionais importantíssimos acontecendo
pelo país. Mas... o Brasil padece de algumas síndromes: a Síndrome do Pensamento
Único – achar que só existe uma maneira de resolver as coisas. Síndrome do
Viralata – tudo o que é bom vem do estrangeiro e a Síndrome da Gabriela – “eu
nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim...” Encerra dizendo “É
preciso que o Brasil mude e que mude para melhor”. Podemos aproveitar a
inspiração que este homem traz e nos perguntar: E eu quero mesmo que o país
mude? Será que mudanças sempre tem que vir “do governo”? O que eu, “no meu
quadrado” posso contribuir para esta mudança?
Obs. Quem quiser assistir a entrevista toda é só procurar no site do
programa Esquenta. Outra dica para quem tem alguma ligação com a história de
Portugal ou simplesmente simpatia pela capacidade de luta de um povo: ouvir no
Youtube uma das muitas apresentações da música “Grândola, vila
morena”.
Comentários
e sugestões: psicologiamaria@yahoo.com.br
*Maria
Antonia de Oliveira é Psicóloga
e Mestra em Psicologia pela PUCAMP, também é Pedagoga pela UNICAMP. Fez
especialização em Dotação e Talento/Superdotação na Universidade Federal de
Lavras – MG. É psicoterapeuta de base analítica (Jung). Tem trinta anos de
experiência em psicologia, educação e estimulação de talento. Publicou
Seriguelas, Terra de Formigueiro e Águas Cristalinas.
fone- 17-8106-6817
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